Augusto Angelis (*)
Todo gestor de pessoas, pelo menos uma vez na vida, se perguntou “como faço para melhorar o engajamento e performance do meu time?”. Se essa questão ainda não chegou a você, fique tranquilo que os novos tempos irão tratar de trazer mais esse desafio para o seu dia a dia.
J. Richard Hackman, um pioneiro nos estudos sobre comportamento humano e que há mais de 40 anos pesquisa sobre times eficientes, já havia nos dado uma luz sobre este tema, criando uma visão de que times eficientes necessitam não só de colaboração, atitude ou certos comportamentos, mas que alguns “habilitadores” (enabling conditions) são essenciais para que o time prospere – e daí surgiu o “The Hackman Model”, que avalia 3 dimensões da efetividade de times.
Porém, antes mesmo de entrarmos nessa discussão sobre modelos e frameworks e também de conhecermos melhor o modelo proposto por Hackman, vamos entender quando/como tudo ficou muito mais complexo. No início dos anos 90 e final da Guerra Fria surgia o acrônimo VUCA (Volatility (volatilidade), Uncertainty (incerteza), Complexity (complexidade) e Ambiguity (ambiguidade), que trazia para a realidade atual todas as angústias de um mundo cada vez mais instável.
O exército americano, à época, cunhou esse termo na esperança de entender a complexidade enfrentada por eles, principalmente na Guerra do Golfo, e não imaginava o quanto desta visão iria apoiar a nossa compreensão do mundo atual. O conceito é simples e nos faz refletir sobre todo, vivemos em um mundo:
• Volátil – em constante mudança, sem padrões e que requer rápida adaptação.
• Incerto – sem clareza do presente e do futuro
• Complexo – onde muitas variáveis impactam nossas decisões
• Ambíguo – onde vários caminhos se apresentam e precisamos escolher o que mais se adapta à nossa realidade.
E como nada dura muito no mundo atual, já temos um substituto para VUCA, o também acrônimo mundo BANI, no qual alteramos as referências para:
• Brittle (frágil) – onde tudo muda a todo momento e negócios estáveis podem se tornar frágeis do dia para a noite
• Anxious (ansiedade) – o excesso de mudança, falta de controle e insegurança geram ansiedade
• Nonlinear (não linearidade) – decisões pequenas ou grandes e as não decisões podem ter consequências devastadoras
• Incomprehensible (incompreensível) – dificuldade de entender o comportamento e tomar decisões
A teoria de Hackman traz um conjunto de conceitos para que possamos não só enfrentar a complexidade dos novos tempos, mas também criar condições que habilitem os “super poderes” dos times de alta performance. Então, sem mais delongas, vamos conhecer as 3 dimensões para aumentar a efetividade dos times:
. Compeling direction – As bases para energizar qualquer time de sucesso é ter um direcionamento que orienta, energiza e engaja. Os times não podem estar inspirados se eles não estão atuando com objetivos explícitos. Portanto, crie desafios que motivem mas que não sejam impossíveis de serem alcançados.
Lembre-se de que estamos no Brasil e nosso nível aqui já é o “VERY HARD”. Eles também devem estar atrelados a: premiações, reconhecimento, promoções, reforçando o sentimento de satisfação e pertencimento.
. Strong structure – Os times devem possuir participantes com diferentes “skills”, rico em diversidade de experiências e conhecimento, onde o foco está menos no processo e mais na criação de soluções e resolução de problemas. Grupos com idades, gêneros, vivências diferentes tendem a ter visões mais criativas e menos “ortodoxas”.
Ter visões divergentes pode trazer cenários mais ricos na análise. Papéis bem definidos e um conjunto diverso de habilidades vai te levar à vitória. Pense nesse caso em um time de futebol somente com zagueiros, não daria muito certo.
. Supportive context – Ter o suporte correto e consistente é a terceira condição para o sucesso dos times de alto impacto. Manter sistemas de recompensa, informações atualizadas e de fácil acesso, dados sobre os produtos, mercado, concorrentes, treinamento e principalmente atenção/orientação no momento certo pode ser decisivo para manter a eficiência.
A frase é clichê, mas vou repetir aqui: dados são o novo petróleo, mas o poço tem que estar acessível a todos! E como tudo na vida evolui, a Harvard Business Review incluiu mais um “tempero” nessa sopa:
. Shared Mindset – A distância, diversidade, trabalho remoto e rotatividade dos times trouxe uma nova variável, que é a nossa atuação não mais como um grupo coeso e sim como vários subgrupos, cada um com uma visão, necessidade, experiência.
Portanto, para quebrar as possíveis barreiras e atritos entre os subgrupos, devemos garantir que cada participante do time e, consequentemente, cada subgrupo entendam a importância da sua contribuição para o sucesso do todo.
Com as equipes se tornando cada vez mais globais e virtuais, os desafios para manter times em alta performance só tendem a ser intensificados, mas não fique triste, nem se zangue. Pensar também que você ou qualquer um neste planeta irá resolver todos os problemas do mundo VUCA/BANI também o levará à loucura.
Faça uma reflexão sobre como seu time vem atuando olhando as 4 dimensões que comentamos aqui e crie uma visão mais sistemática e fragmentada dos problemas.
Crie o seu roadmap de performance e ataque aqueles do mais simples para o mais complexo. Garanto que em pouco tempo você sentirá a diferença em ter um time mais focado, energizado e preparado para se adaptar a qualquer situação.
(*) – É Head de Marketing, Produtos e Novos Negócios da CTC (https://www.ctctecnologia.com/).