Andréa Löfgren (*)
No dia 12 de março de 2020 o mundo parou. Literalmente. Quando a Organização Mundial de Saúde decretou uma pandemia global em decorrência de um vírus desconhecido chamado Covid-19, foram proibidas todas as aglomerações de pessoas ao redor do mundo. Naquele momento, a indústria do entretenimento ao vivo mudou para sempre. No Brasil, onde as restrições começaram a valer a partir do dia 23 de março, houve uma enorme apreensão no que iria acontecer no mercado. Passado o choque inicial, empresas que produzem entretenimento ao vivo se viram diante de uma situação inusitada. De uma hora para outra a sua principal fonte de receita, os eventos ao vivo, deixou de existir sem que houvesse um substituto.
O setor de entretenimento ao vivo sempre atuou num ambiente de grandes incertezas. Trabalhar como produtor de eventos exige acima de tudo um grande jogo de cintura e a capacidade de resolver problemas rapidamente. Estas características se mostraram fundamentais durante a pandemia pois as empresas do setor precisaram se reinventar num curtíssimo espaço de tempo.
Algumas buscaram replicar a experiência do espetáculo ao vivo dando novos significados ao ambiente digital. O palco físico foi substituído pelas lives levando a um crescimento do uso das mídias digitais, plataformas de streaming, shows virtuais em videogames e shows híbridos. Outras procuraram repensar as suas estratégias de negócio, desenvolvendo eventos proprietários e novos produtos que pudessem navegar nesse ambiente de incertezas. Outras infelizmente não conseguiram sobreviver ou migraram as suas operações para outros setores.
O fato é que a forma como as empresas organizavam a sua gestão teve que mudar. Um dos maiores efeitos da pandemia foi evidenciar a necessidade de se buscar uma estrutura organizacional que permitisse a realização de mudanças rápidas através de processos mais flexíveis. Aspectos como criar uma estratégia de marketing digital sólida, estreitar os relacionamentos com parceiros e fornecedores e realizar um planejamento de riscos se consolidaram como elementos fundamentais para a sobrevivência do negócio.
Quais foram então os principais efeitos da pandemia na gestão de empresas do setor?
- Planejar em tempos tranquilos facilita as ações em tempos turbulentos. A pandemia mostrou que o planejamento e a elaboração de planos de risco devem fazer parte das atividades estratégicas das empresas. O negócio precisa ser estruturado de forma a facilitar a adaptação em tempos de crise. Por exemplo, viabilizar tarefas administrativas remotas em ambiente de home office investindo em ferramentas web based.
- Não coloque todos os ovos num único cesto. Durante a pandemia foi impressionante a rapidez em que empresas conseguiram migrar os eventos para o ambiente digital e com esse movimento criar fontes alternativas de receita. Naturalmente o virtual jamais substituirá um evento ao vivo, no entanto desenvolver competências e investir em equipamentos abrem um leque de possibilidades na oferta de serviços.
- Invista em quem investe em você. Um dos aspectos mais interessantes das organizações que atuam no setor de entretenimento é a existência de pequenos núcleos centrais compostos por pessoas que viabilizam o dia a dia da empresa. Ao redor desse núcleo, gravitam uma multidão de profissionais com competências especificas e freelancers. Investir nesse grupo de pessoas, agregando novas competências, capacitando mas principalmente envolvendo-as nas decisões criativas cria um comprometimento que pode fazer a diferença num momento de crise.
A setor do entretenimento ao vivo foi um dos que sofreu os maiores impactos em decorrência da pandemia. Empresas e profissionais da área precisaram buscar soluções para se adaptar às novas condições. De todas as inovações criadas durante a pandemia, o desenvolvimento de uma gestão adaptável e flexível, a criação de novos produtos e a colaboração inclusiva foram os legados mais importantes deste período.
(*) Especialista em Processos e Projetos, com mais de vinte anos de experiência em gestão de processos e planejamento operacional. Atuou em empresas de diversos segmentos incluindo consultoria de gestão, telecomunicações, tecnologia da informação, serviços financeiros, óleo & gás, megaeventos, parques temáticos e associações de classe. Hoje é sócia da Gig Flows, uma consultoria de gestão que se dedica exclusivamente ao planejamento estratégico e melhoria de processos para empresas das Indústrias Criativas e do Entretenimento ao vivo. Andréa é advogada formada pela PUC-RJ com MBA pelo IAG PUC-RJ e Master’s Degree em Entertainment Business pela Full Sail University e está finalizando o mestrado profissional em Gestão da Economia Criativa pela ESPM e a pós-graduação em Direito Intelectual pela PUC-RJ.