Valdo Marques (*)
A falta de chuvas e o baixo nível dos reservatórios trouxeram de volta, após 91 anos, a pior crise hídrica ao Brasil.
Isso impacta o preço da conta de luz ao consumidor e causando temor a prestadoras de serviços indispensáveis, como hospitais, supermercados e condomínios residenciais, em meio à pandemia de Covid-19. Em 28 de maio último, parte do País ficou sem energia por conta de um problema causado pela usina de Belo Monte.
Além disso, com a chegada do inverno e um período seco mais rigoroso, a agência reguladora do setor precisou acionar a bandeira vermelha patamar 2, uma vez que o cenário de reservatórios reduzidos desfavorece a produção de energia pelas hidrelétricas. O reajuste da bandeira tarifária, anunciado pela Aneel, levou o mercado a revisar suas projeções para a inflação em 2021. As estimativas passaram a variar entre 6% e 6,71%, acima do teto da meta, que era de 5,25%.
O acréscimo no valor da conta de luz será usado para bancar os custos com a maior utilização das usinas termoelétricas, em função da baixa recorde dos reservatórios de água e do risco de um novo desabastecimento de energia no País. A taxa extra cobrada passou de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. A crise hídrica também trouxe de volta ao vocabulário termos que estavam em desuso desde 2001, ano marcado por uma política de redução compulsória do consumo de energia elétrica, imposta pelo governo federal.
À época, o racionamento de energia teve forte impacto sobre a popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso, somando-se à crise de desvalorização do real de 1999, com efeitos relevantes sobre a economia. Mas afinal, o que está ocorrendo agora no Brasil é um apagão ou um racionamento de energia? Para responder à questão, no entanto, precisamos entender antes o que significa cada termo.
O apagão é uma falha inesperada no fornecimento de energia, como a crise energética que durou três semanas no Amapá em 2020, após incêndio numa subestação em Macapá. O racionamento, por sua vez, é a determinação pelo governo de uma redução compulsória do consumo de energia elétrica, quando o sistema não tem condições de atender à demanda por algum motivo específico, como a falta de chuvas decorrente de uma crise hídrica.
Apesar de os dois termos serem completamente diferentes, viraram praticamente sinônimos. Até o momento, no entanto, o governo tem negado enfaticamente a possibilidade de um racionamento e descartado a possibilidade de apagões. Para tentar controlar a crise, antecipou alguns contratos de operação de linhas de transmissão, principalmente para manter o reservatório do Sudeste, que corresponde a cerda de 70% da bateria de reserva hidráulica; e reduziu as vazões nas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera, no Rio Paraná.
Mesmo com o risco de um apagão batendo à porta do Brasil, ainda é possível assegurar a retomada das atividades empresariais, sem solução de continuidade, mantendo a aceleração da nossa economia. Para isso, investir em grupos geradores, com o objetivo de garantir a autonomia energética e assegurar a disponibilidade do sistema de geração de energia, tornou-se imprescindível.
Mas é importante também que as pessoas adotem um comportamento consciente e assumam o compromisso de evitar o desperdício de energia, revendo hábitos individuais e coletivos do dia a dia que contribuam para preservar água nos reservatórios e para reduzir a geração termoelétrica.
Só assim, com a união de todos, poderemos impedir que o nível dos reservatórios da região Sudeste, considerada a caixa d’água do País, chegue em novembro com 7,5% da capacidade de armazenamento, hoje com 27,6%.
(*) – É Vice-Presidente Executivo da Stemac, empresa que oferece soluções em Grupos Geradores comercial, empresarial e industrial (www.stemac.com.br).