Jomar Silva (*)
Se você não é uma pessoa do mundo da tecnologia, talvez nunca tenha escutado falar em “open source”.
Traduzida como código aberto, a expressão representa um movimento global de desenvolvimento colaborativo de tecnologia, uma vez que se refere a softwares que qualquer pessoa pode modificar como e quantas vezes quiser e compartilhar mundo afora. É como se fosse uma receita de bolo publicada na internet para quem quiser testar, contribuir com feedbacks e aprimorar com detalhes específicos.
O Brasil já foi uma grande referência no setor, sediando diversos eventos de comunidades, como o Fórum Internacional de Software Livre, que por 18 anos fortaleceu o conhecimento colaborativo e a construção de tecnologias livres. O que a princípio era um movimento voltado apenas para profissionais de TI apaixonados pela área, passou a fazer parte das estratégias e do dia a dia das empresas que têm em seu DNA a intenção de desenvolver produtos e soluções que facilitem a vida das pessoas.
O código aberto está tão inserido em nosso cotidiano que, por vezes, deixamos passar despercebido. Muitos de nós carregamos um Linux dentro do bolso (Android), assistimos TVs pelo Linux (SmartTVs), acessamos à internet usando Linux (nos roteadores Wi-Fi) e até conversamos com o Linux (assistentes de voz), sem contar os milhares de componentes de software open source utilizados para a criação de apps, sites e, principalmente, a computação onipresente na nuvem ou em dispositivos IoT.
Você pode se perguntar como essa revolução aconteceu e como as companhias ganham dinheiro com isso e a resposta é a inovação. Um novo modelo de produzir, no qual a competição e a união trabalham juntas. O sistema operacional GNU/Linux é um exemplo disso. Empresas que concorrem em seus segmentos contribuem na formação não apenas do kernel e do sistema operacional, mas também em uma série de softwares, bibliotecas e frameworks.
Com esta abordagem, fabricantes de componentes de hardware garantem que a performance de seus equipamentos será maximizada. Empresas que vendem serviços de suporte e customização prometem, além da longevidade dos softwares, o pleno conhecimento e a capacidade de adequá-lo às necessidades dos seus clientes.
Para quem acompanha esta evolução desde o final da década de 90, é interessante notar como os desenvolvedores de softwares utilizam softwares de código aberto como premissa básica de grande parte do que geram.
Porém, somente uma parcela pequena destes profissionais contribui, de fato, para os projetos. Documentação e relatórios detalhados de bugs são duas formas fundamentais de ajuda que auxiliam o ecossistema a identificar áreas de atenção e onde devem concentrar os esforços. De acordo com o Evans Data Corporation, empresa de pesquisa de mercado, em 2024 o Brasil alcançará a 5ª posição como país com o maior número de desenvolvedores de software no mundo (passando o Japão) e este crescimento está chamando a atenção.
Estamos deixando de ser meros consumidores de tecnologia e vamos passar a ser um importante player global no desenvolvimento de software e o software de código aberto é fundamental para absorvermos com maior rapidez o estado da arte do que é desenvolvido internacionalmente.
Se você nunca contribuiu com um projeto de código aberto ou se tem curiosidade em saber como eles funcionam, nada como iniciar a sua jornada com projetos desenvolvidos aqui, onde grande parte das equipes fala o nosso idioma e está acessível para ouvir a sua opinião sobre os projetos e, é claro, aceitar as suas contribuições.
(*) – É Developer Relations Head na Zup, empresa de tecnologia que atua na transformação digital de grandes empresas (www.zup.com.br).