Alexandre Pierro (*)
O Blockchain é uma tecnologia relativamente recente.
Surgiu em 2008, logo após o colapso econômico e imobiliário nos Estados Unidos, como um reflexo da quebra de confiança da população nos bancos. As instituições financeiras foram automaticamente vistas como vilãs, por isso a necessidade de encontrar maneiras de fazer transações de valor sem necessidade de um intermediário.
Foi quando nasceu o conceito de peer-to-peer, ou seja, transferências de ponta a ponta e autenticada por uma rede de computadores que não têm acesso ao conteúdo da transferência. Na prática, podemos pensar em um modelo parecido com o da internet: uma rede de blocos encadeados – daí o termo Blockchain – que compartilham conteúdo de valor sempre com uma espécie de impressão digital, que permite a rastreabilidade e inviolabilidade de tudo que é enviado.
A principal diferença é que na internet compartilhamos fotos, documentos, entre outros materiais que não tem valor. Com essa tecnologia, podemos garantir a troca de conteúdo de valor, como dinheiro, contratos, patentes ou objetos judiciais de maneira eficaz e segura. Nos últimos anos, em que o Brasil foi tomado por escândalos de corrupção, surgiu a ideia de utilizar o blockchain para rastrear documentos e impedir sua falsificação ou adulteração.
Isso seria bastante útil em contratos e licitações públicas, por exemplo. Em termos de tecnologia, isso não requer grandes investimentos, porque tudo é feito na nuvem – mais ou menos, como a internet, que dependeria apenas de um computador ou celular para fazer esse acesso. O grande problema ainda é conscientização das pessoas e mudança de mindset, além de arcar com as possíveis consequências desse avanço tecnológico.
No setor público, isso poderia ser o fim cartórios, por exemplo. Para comprar uma casa, bastaria um contrato entre vendedor e comprador, garantindo a autenticidade das informações e a inviolabilidade do contrato por meio do Blockchain. Adeus às idas ao cartório e busca por fiadores… Portanto, ainda se trata de uma questão de permitir-se inovar. Os ganhos são enormes.
Além de tornar os processos muito menos burocráticos, tanto no setor público quanto no privado, o Blockchain evita o desperdício de tempo, energia, materiais e força de trabalho. Imagine que em uma multinacional exista um departamento só para emissão e recebimento de nota fiscal. Se eu tenho todos esses comprovantes disponíveis no sistema, essa área se torna totalmente desnecessária, permitindo otimizar os processos da empresa e ganhar eficiência.
Essa tecnologia também pode representar uma ótima possibilidade para empresas de auditoria, como consultorias e certificadoras. Na PALAS, por exemplo, todos os documentos de Sistema de Gestão são feitos por Blockchain, garantindo procedimentos autênticos, rastreáveis e invioláveis. Depois que um documento é enviado para a rede, é possível saber quem teve acesso a ele ou se essa pessoa compartilhou o documento com outra.
Em um processo de auditoria, isso é interessante pois torna toda a implementação de uma norma mais idônea e fortalece todo o Sistema de Gestão. Se ele apresenta uma falha, eu consigo rastrear os processos e identificar exatamente onde ela está. Porém, se os documentos são alterados sem eu saber, isso acaba fazendo com que essa cadeia não seja eficiente e eu nunca consiga chegar à raiz dos problemas.
Lembre-se: o jeitinho brasileiro não engana o auditor, mas a própria empresa. Investir na criação de uma cultura de inovação, que permita incorporar novas tecnologias às empresas e incentivar as equipes a desenvolver um novo mindset, vai permitir uma maior organização de processos, a um custo menor e mais eficiente.
Este é o primeiro passo para um futuro menos burocrático e inteligente. Só é preciso estar preparado para abraçá-lo!
(*) – É sócio-fundador da Palas e um dos únicos brasileiros a participar ativamente da formatação da ISO 56.002, de gestão da inovação (www.gestaopalas.com.br).