Carlos Baptista (*)
Nos últimos dias, após o Organização Mundial de Saúde declarar pandemia no planeta por conta do coronavírus (Covid-19), países que começaram a ter crescimento exponencial do número de casos, tiveram que adotar medidas de contingenciamento, desde o fechamento de fronteiras até o isolamento total de pessoas.
No Brasil, não tem sido diferente e além de aulas, cursos e eventos serem adiados, reduzindo o número de indivíduos aglomerados em um mesmo espaço, também tem sugerido que empresas incentivem os seus colaboradores a trabalharem remotamente. Tal medida tem sido adotada gradativamente pelas grandes corporações, que há algum tempo estão acostumadas a oferecer o home-office como uma alternativa, ou seja, já possuem uma cultura em digitalização dos processos.
Entretanto, a transformação digital ainda não é uma realidade para 90% das empresas no país, pois elas não se desapegaram dos modelos tradicionais repensando os seus protocolos, serviços, tecnologia e acima de tudo cultura. Vale destacar que o isolamento ainda não é obrigatório, mas pode vir a se tornar com os desdobramentos de casos de contaminação no país, conforme já acontece em alguns países da Europa. E mesmo o home – sendo facultativo, empresas já começam a ter alguns problemas por ainda terem uma mentalidade analógica.
Adotar apenas o trabalho remoto, pode parecer simples, mas não é. Não basta dispensar o colaborador e pedir para ele se preocupar com as tarefas diárias. A transformação digital ocorre a partir da utilização da tecnologia, implementação de processos adaptáveis e dinâmicos, mudança organizacional e acima de tudo a adoção de um novo mindset.
Hoje, por conta da quarentena, empresas reclamam que faltam laptops para alugar e disponibilizar para seus funcionários, escolas estão com dificuldades de manter as atividades, varejo precisou parar as atividades pela obrigatoriedade de encerramento das lojas. Em pleno século XXI e final da segunda década, temos a tecnologia e conhecimento necessários para que a grande maioria dessas atividades se mantivesse desde que esses negócios já tivessem iniciado a jornada da digitalização.
E isso, não é facilmente absorvido da noite para o dia. É necessário mudar toda a cultura organizacional de uma empresa, desde o CEO até o estagiário, podendo levar meses ou anos. Treinamentos de líderes, gestores e equipes devem ser feitos. O foco deverá mudar da tradicional hierarquia para modelos mais colaborativos, ágeis e pluri-disciplinares. Todos devem estar alinhados no mesmo discurso independentemente da experiência ou background.
Existem muitos empresários preocupados com a baixa produtividade nestes dias de quarentena, que provavelmente vai acontecer, mas engana-se quem acha que isso seja o final apocalíptico. É necessário que empresários vejam isso como uma oportunidade. Com colaboradores em casa, muitos podem se habituar a usar ferramentas de organização, utilizar nuvem com mais rotina, participar de reuniões online com mais frequência, ou seja, se “digitalizar” e melhorar a produtividade.
Negócios podem apostar em comércio eletrônico fazendo parcerias com startups de logística e aumentar a capacidade de distribuição dos seus produtos, escolas podem se reinventar por intermédio de cursos “presenciais” online. As possibilidades são infinitas e várias soluções já existem. Basta ficar aberto a essa transformação e desapegar dos velhos modelos. Ao inverter uma das etapas de transformação digital dentro da empresa, o líder gestor terá maior facilidade em mudar o seu mindset quando decidir digitalizar os processos da companhia em um futuro próximo.
E algo é possível afirmar: empresas que até hoje, não se transformaram digitalmente e estão sofrendo com os impactos da quarentena, com certeza, após esta crise, precisarão rever sua estratégia de negócios e adotar novos métodos e tecnologias. Para as empresas que já tinham iniciado essa jornada, é crucial que invistam na organização e cultura para que sejam flexíveis numa nova era mais dinâmica e imprevisível.
(*) – Especialista em transformação digital e processos ágeis para as empresas, é professor e Coordenador do núcleo de seleção de alunos do MBA da FIAP.