Entre os principais destaques da agenda de tecnologia do setor financeiro para o próximo ano estão o começo da adoção do Open Banking no Brasil, a partir do segundo semestre, e o início, em novembro, da operação do sistema de Pagamentos Instantâneos, que permitirá enviar e receber dinheiro durante 24 horas por dia, 7 dias por semana em até 10 segundos
Para padronizar e organizar a plataforma de pagamentos instantâneos, em um ambiente de segurança e comodidade para os clientes, as instituições financeiras investem em infraestrutura, tecnologia e discussões técnicas. E tem levado propostas e recomendações ao Banco Central para a criação do ecossistema do Open Banking, de maneira a garantir sua segurança, financiamento adequado e confiabilidade.
Adicionalmente, para o próximo ano, investimentos em tecnologias como inteligência artificial, big data, internet das coisas e biometria prometem mudar de forma significativa os modelos operacionais e de negócios dos bancos, e devem trazer mais produtos e soluções bancárias inovadores.
“Para fazer frente às inovações e manter de pé uma estrutura que atenda a milhares de brasileiros, o setor bancário brasileiro vem investindo anualmente cerca de R$ 19,5 bilhões em tecnologia”, afirma Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN. “O montante é um reflexo do esforço das instituições para continuar sempre acompanhando a evolução da tecnologia.”
Conheça abaixo o que estará no radar e na agenda dos bancos brasileiros em 2020:
Sistema de Pagamentos Instantâneos
Enviar e receber dinheiro durante 24 horas por dia, sete dias por semana, será possível no país a partir de novembro de 2020, quando está prevista a implementação do ecossistema de pagamentos instantâneos no Brasil. As instituições financeiras já estão se preparando para aderir ao sistema e investem em infraestrutura, tecnologia e discussões técnicas para padronizar e organizar uma plataforma de pagamentos instantâneos dentro de um ambiente de segurança para os clientes.
“A nossa meta é fazer com que uma transação realizada pelo sistema de pagamento instantâneo leve até, no máximo, 10 segundos”, afirma Leandro Vilain, diretor de Negócios e Operações da FEBRABAN. Hoje, 95% das TEDs acontecem geralmente em até 5 minutos, apesar de o prazo estabelecido na regulação ser de até 30 minutos.”
A partir de fevereiro de 2020, estará disponível, no Banco Central, o ambiente de homologação do sistema para testes de conectividade com as potenciais instituições participantes. Em junho, todas as instituições deverão estar preparadas para realizar a etapa formal de homologação do sistema de pagamentos instantâneos.
Open Banking
O sistema de Open Banking cria novos modelos de negócios digitais com o uso de APIs (interfaces de programação de aplicações). O modelo permite aos clientes compartilhar o acesso aos seus dados financeiros com provedores terceiros não-bancários, que podem usar esses dados para oferecer ao consumidor uma melhor experiência com serviços financeiros.
Em novembro, o Banco Central pôs a proposta de Open Banking em consulta pública até 31 de janeiro de 2020. A edição da regulação está prevista para o primeiro semestre, e o início da implementação deverá começar no segundo semestre, segundo o Bacen.
Para Fernando Freitas, superintendente-executivo do Departamento de Pesquisa de Inovação do Bradesco, o Open Banking impacta, praticamente, todas as áreas do banco. “Nesse cenário, o open banking pode permitir a construções de novos serviços financeiros e não financeiros como onboarding e validação de identidade.”
Big Data e Fast Data
O potencial do Big Data e das ferramentas para análise de dados, chamadas de Analytics, já permitem que as instituições reduzam seus custos e exposição a riscos, e conheçam melhor seus clientes.
Entretanto, o desenvolvimento e a expansão dos negócios nos bancos em áreas como IoT (internet das coisas) fizeram com que as instituições priorizem, agora, casos de uso de fast data e streaming (dados gerados em tempo real) que permitem interceptar, interpretar e responder a eventos em interações dos clientes com os canais de atendimento do banco com muito mais velocidade.
“Trata-se de uma nova fase em Big Data, em que a instantaneidade é o novo normal”, diz Richard Flávio da Silva, superintendente-executivo de Tecnologia do Santander. “Em uma sociedade em que os desejos são para o ‘agora’, vemos muito valor na capacidade de dialogar com os clientes no que chamamos ‘momento zero’, o instante mais próximo possível do tempo real.”
Inteligência artificial (IA)
A Inteligência Artificial (IA) ainda continuará revolucionando o atendimento bancário, por meio de chatbots e assistentes virtuais. Aqui, os robôs são dotados da capacidade de “pensar” como seres humanos, o que inclui a prática de raciocinar e tomar decisões a partir do cruzamento de dados. Com isso, ajudam a tirar dúvidas, dar informações e auxiliar em consultas e até sugerir investimentos.
“Agora, a bola da vez é o atendimento por voz, serviço que se expandirá nos bancos em 2020”, afirma Gustavo Fosse, diretor setorial de Tecnologia e Automação Bancária da FEBRABAN e também diretor de Tecnologia do Banco do Brasil.
O uso da tecnologia também avançará no processo de onboarding (abertura de contas) digital, reconhecimento de imagens, reconhecimento de assinaturas em cheques, financiamentos, modelos de risco de crédito, e em áreas como a de recursos humanos e na jurídica, para leitura de contratos e pareceres.
5G e internet das coisas
A internet das coisas (IoT) ganhará ainda mais importância na estratégia de negócios das instituições financeiras com a chegada da rede 5G, já que essa tecnologia deve impulsionar o uso massivo de IoT e a oferta de produtos e serviços inovadores.
Segundo previsão do Gartner, 14,2 bilhões de equipamentos conectados estarão em uso até o final de 2019, e esse total chegará a 25 bilhões de dispositivos até 2021, produzindo cada vez mais um imenso volume de informações.
O 5G promete elevar a comunicação móvel a um novo patamar. Além de maior velocidade (de até 1,5 Gbps de downlink – transmissão via satélite), cerca de 20 vezes mais rápida, e baixa latência (quanto mais baixa a latência, melhor a qualidade da transmissão), a tecnologia será capaz de conectar dez vezes mais dispositivos que as redes sem fio 4G. Neste mês, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) adiou a aprovação da proposta de edital para leilão de frequências 5G, que ficará para 2020, e o leilão poderá ficar para o início de 2021.
Biometria
Formas alternativas de biometria continuarão a avançar nas instituições financeiras em 2020. A biometria digital, ou pela palma da mão, já é velha conhecida dos clientes bancários brasileiros nos terminais de autoatendimento. As biometrias de voz e a facial, já estudadas por grandes instituições, deverão, em breve, ser usada em larga escala pelos clientes bancários.
“A biometria garante que é você mesmo que está fazendo a transação bancária, trazendo unicidade e veracidade para a operação”, diz Walter Faria, diretor-adjunto de Operações da FEBRABAN.
Os bancos também investem na biometria comportamental, para poder autenticar o cliente o tempo todo sem que ele seja incomodado. As instituições investigam aspectos cognitivos e ações adotadas pelos usuários, como, por exemplo, padrão de rolagem de tela e movimentação do mouse.
Os estudos com biometria comportamental crescem para atender diversos setores que precisam de tecnologias para reconhecimento, identificação e controle de acesso. “Nos EUA, o Pentágono já está estudando a biometria de batimento cardíaco; se esta tecnologia se mostrar viável no futuro, nada impede que seja usada no setor financeiro”, afirma Faria.
RPA
Os robôs não serão apenas assistentes virtuais que ajudarão clientes em suas operações bancárias. Para o próximo ano, eles continuarão a atuar nos bastidores das instituições financeiras, por meio da Automação Robótica de Processos (RPA, na sigla em inglês), com a ajuda de inteligência artificial. “RPA será uma tecnologia-chave para que os nossos colaboradores possam eliminar tarefas repetitivas e de baixo valor agregado”, avalia Fernando Freitas, do Bradesco.
Pesquisa feita pela Jupiter Research revelou que as receitas do setor bancário com RPA chegarão a US$ 1,2 bilhão até 2023. De acordo com o levantamento, quando combinada com inteligência artificial, o RPA pode reduzir consideravelmente os custos de conformidade, aumentar a produtividade e melhorar a experiência do cliente.
Fonte: FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos).