O entendimento de que o investimento público por aluno deve ser maior nas escolas dos povos tradicionais, foi defendido em audiência pública promovida na terça-feira (26) pela Comissão de Educação do Senado. O debate tratou dos impactos do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), em análise no Senado e na Câmara, na garantia do direito à educação escolar em territórios marcados por alta vulnerabilidade.
Com salário atrasado, a professora Maria José Sousa Silva, representante dos quilombolas de Mirandiba (PE), ensina em uma sala de aula improvisada, que não tem banheiro nem cozinha. Também falta transporte para as crianças, que, de acordo com ela, caminham dois quilômetros debaixo do sol quente para receber uma merenda de baixa qualidade.
Aos 16 anos, Clarice Alves Rezende, representante do grupo de meninas indígenas da tribo pataxó hãhãhãe, da Bahia, também disse sentir-se excluída. A menina é sobrinha do índio Galdino, que foi queimado vivo em um ponto de ônibus de Brasília, em 1997. “Quando eu me formar no ensino médio no ano que vem e receber o meu diploma, aquele pedaço de papel vai representar todos os dias em que o ônibus da escola quebrou, todas as vezes que ficamos meses sem professores, sem sala para estudar, sem merenda e até sem água para beber”, relatou.
Para o antropólogo Gersem Baniwa, do Foro Nacional de Educação Escolar Indígena, que já foi professor bilíngue na sua aldeia, na Amazônia, e chegou a ocupar o cargo de secretário municipal de Educação, o Fundeb garantiu a abertura de mais escolas para os índios, mas a distribuição dos recursos seria influenciada por um “racismo geográfico” (Ag.Senado).