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Morte do Barão do Rio Branco fez Brasil ter dois carnavais em 1912

em Especial
sexta-feira, 01 de março de 2019
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Morte do Barão do Rio Branco fez Brasil ter dois carnavais em 1912

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Irreverência levou festejos a avenida rebatizada com o nome do herói

Ricardo Westin/Agência Senado

Os foliões nunca se esbaldaram tanto quanto em 1912. Naquele ano, o Brasil teve dois carnavais. O primeiro foi em fevereiro, seguindo o calendário regulamentar. A festança se repetiria em abril, com outros cinco dias de fantasia, confete e serpentina que passaram pelo domingo de Páscoa.

Paradoxalmente, o carnaval em dobro teve origem na morte de um herói nacional: o Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores havia quase uma década. Vítima de insuficiência renal, ele morreu aos 66 anos no dia 10 de fevereiro, um sábado, quando faltava exatamente uma semana para a largada dos festejos.

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Revista O Malho noticia morte do Barão do Rio Branco e enaltece alguns de seus feitos. imagem: reprodução/Biblioteca Nacional

O Brasil caiu em luto. No Rio de Janeiro, a capital da República, uma multidão chorosa fez fila no Palácio do Itamaraty para ver o cadáver de Rio Branco e acompanhou o caixão até o Cemitério do Caju, onde o ministro foi enterrado com honras de chefe de Estado.

Dada a comoção generalizada, os clubes do país que organizavam bailes à fantasia, em especial os do Rio, acharam que seria desrespeitoso promover a esbórnia em pleno período de luto. Por isso, decidiram cancelar os bailes em cima da hora e remarcá-los para a semana da Páscoa.

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Em sinal de luto pela morte de Rio Branco, clubes do Rio adiam bailes de Carnaval de fevereiro para abril. imagem: reprodução O Paiz/Biblioteca Nacional

O problema é que, para os foliões mais afoitos, um mês e meio seria uma espera longa e torturante demais. Quando chegou o sábado de Carnaval, eles concluíram que uma semana de luto por Rio Branco já tinha sido mais do que suficiente. Vestiram a fantasia e foram para as ruas munidos de confete, serpentina e lança-perfume (que só seria proibido em 1961, pelo presidente Jânio Quadros).

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Charge do jornal O Paiz sugere que, em respeito a Rio Branco, brasileiros não abram a porta para o Carnaval.  imagem: reprodução/Biblioteca Nacional 

Passada a Quaresma, veio a segunda rodada de festejos. No Carnaval bônus, a gandaia foi mais diversificada do que no primeiro Carnaval. Os foliões puderam se divertir tanto nas guerras de confetes nas ruas quanto nos bailes de máscaras nos clubes.

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A penúria financeira de uma viúva casa-se com o carnaval em dobro na menção à duplicata. Imagem: reprodução/Biblioteca Nacional

Apesar de não ter funcionado, a ideia de adiar o Carnaval por causa da morte de Rio Branco não chegava a ser descabida. Documentos históricos guardados no Arquivo do Senado mostram que, de fato, o Barão do Rio Branco tinha o status de herói nacional.
Em 1904, quando ele já era ministro, os senadores e deputados aprovaram um projeto de lei que lhe concedeu uma pensão vitalícia mensal de 2 contos de réis pelo “reconhecimento aos inolvidáveis serviços prestados ao país”.

O senador Arthur de Souza Lemos (PA), num relatório de 1910 a respeito de um tratado entre o Brasil e o Uruguai negociado por Rio Branco, classificou o ministro de “legendário” e destacou o seu “tato delicadíssimo” mas negociações internacionais.

O grande feito de Rio Branco foi ter concluído o traçado das fronteiras do Brasil, que ainda tinha linhas nebulosas e pendentes. Antes de ser ministro, apenas como diplomata, ele atuara nas arbitragens internacionais que garantiram ao país o oeste de Santa Catarina (disputado com a Argentina), em 1895, e a área que compreende o Amapá, Roraima e o norte do Pará e do Amazonas (disputada com a França), em 1900.

Graças ao sucesso nessas duas missões, Rio Branco se tornou ministros das Relações Exteriores em 1902. Logo veio outro grande êxito: em 1903, após intensas negociações, assinou com a Bolívia o Tratado de Petrópolis, que incorporou o Acre ao território nacional.

De acordo com o historiador e diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos, autor da biografia Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco (editora Companhia das Letras), não é exagero considerá-lo um herói nacional:

— Se juntarmos todas as áreas que Rio Branco ganhou para o Brasil, teremos um território equivalente a toda a Região Sul mais o estado de Pernambuco. Isso não é pouca coisa. Além disso, é preciso lembrar que, na disputa com os franceses, o pleito deles era chegar até o Rio Amazonas. Foi graças a Rio Branco que isso não aconteceu.