Fabrício Saad (*)
Apesar de o termo “inovação” estar cada vez mais comum entre profissionais de diversos segmentos, você realmente sabe o que isso significa para o mundo?
Imagina que a inovação seja capaz de romper a barreira dos negócios, moldar a forma de pensar ou o espírito do tempo de uma geração inteira de profissionais e empresas? Sim, independentemente do tamanho da inovação, ela tem um impacto tão grande na realidade das pessoas, que mesmo as coisas mais tradicionais estão tendo suas estruturas abaladas.
Sejamos categóricos. Obviamente, quem mais interage com a inovação é quem está no mundo dos negócios, mas isso não quer dizer que ela se restrinja a isso. Uma pesquisa sobre o perfil do empreendedor paulista, realizada pela Desenvolve SP, mostrou que cerca de 80% dos empresários acreditam que a inovação é essencial para a competitividade. Para eles, os maiores objetivos da adoção dessa estratégia é a conquista de novos mercados. Isso porque a inovação afeta o consumidor, vizinho do consumidor, parente, etc. Ela vem de uma necessidade das pessoas e existe por essas pessoas.
A pesquisa mostrou que 74% dos entrevistados considera a inovação algo além da criação de um novo ou revolucionário produto. Isso se dá porque a inovação existe na forma de pensar de uma parcela muito maior da população. Está em cada um. No desejo de ser melhor atendido; na necessidade por imersão; no curtir e compartilhar das redes sociais; no comportamento que motiva as empresas.
É um processo que se retroalimenta, indo da empresa para consumidor, e vice e versa. É uma mudança no ser e viver a realidade das pessoas. Os negócios aprendem com a observação de todo esse processo. A inovação pode vir de qualquer departamento dentro de uma empresa, geralmente atrelada a uma necessidade ou a um novo modo de se observar uma coisa antiga; seja um processo, um produto, o modo de falar com sua equipe e clientes. A inovação é um modelo mental. Isso significa que é algo vivo, orgânico, que corre nas veias de todos os envolvidos, desde o presidente até o chão de fábrica. É uma cultura.
Há inúmeros conteúdos disponíveis sobre o tema. Alguns mencionam que a inovação pode se dar em forma de produtos novos para novos mercados, de produtos novos para o mesmo mercado, de melhorias de produtos existentes ou até no desenvolvimento de produtos similares, só que mais baratos, a fim de atingir um outro púbico. Existem ainda os que acham que inovação é apenas aquilo que está ligado à tecnologia – o que trata-se de um grande equívoco, visto que a tecnologia é apenas um dos meios que possibilita a inovação e não um fim.
Nesse sentido, é comum também ouvirmos o termo inovação disruptiva. Segundo o dicionário, disrupção quer dizer “aquilo que rompe ou altera algo”. Ou seja, uma inovação disruptiva é apenas aquela que tem o poder de alterar tudo o que veio antes dela. Um bom exemplo são os smartphones, que romperam com os hábitos anteriores no uso de telefones celulares. Outro exemplo é o Uber, que alterou a maneira como as pessoas se locomovem nos grandes centros urbanos.
Contudo, inovação não é e nem precisa ser apenas uma criação tecnológica ou disruptiva. A inovação pode ser a criação de um novo processo ou apenas a melhoria de algo já existente. Inovar em serviços, melhorar a produção, reinventar a distribuição, tudo isso é uma forma de inovar. E essa postura demonstra que a inovação está ao acesso de todos, independentemente do porte ou segmento de atuação. A inovação é democrática e, quanto mais criativa, melhor.
Logicamente, inovar não é fácil. Demanda esforço e espírito de equipe. Dificilmente alguém consegue inovar sozinho. Normalmente, é comum encontrar muitas resistências à inovação, afinal, ela exige que se saia da zona de conforto, buscando alternativas para fazer mais, ou melhor, com os mesmos ou até com menos recursos. Mas, é um esforço que sempre vale a pena. Uma empresa inovadora está sempre em busca de crescer, não apenas em números, mas no sentido de ir além do que ela já foi.
Um bom exemplo de empresa que adotou a inovação como estratégia de mercado é a Mazzaferro, uma indústria familiar do segmento de nylon, com 65 anos de atuação. O mais interessante é que mesmo tendo um mercado consolidado, tradição, ser uma empresa de vanguarda, a idade não se tornou sinônimo de comodidade. A empresa podia ter um bom market share, ser líder em sua área de atuação original, mas ela não se acomodou em sua posição. Saiu em busca de novas oportunidades, até mesmo desbravando mercados desconhecidos.
Claro que isso não aconteceu da noite para o dia. Seu primeiro passo foi buscar auxílio profissional. Inovar não quer dizer apostar em tudo que brilha. A diretoria voltou aos bancos escolares a fim de entender as transformações do mundo e descobrir em quais novos mercados eles poderiam atuar. Foi nesse momento que eles entenderam que a inovação estava além da tendência, não era um modismo ou uma palavra bonita usada em um novo contexto. Era algo que podia ser usado no dia a dia, como estratégia.
Com diretrizes e métricas eficientes (afinal, não dá para fugir dos números e apostar no achismo) a empresa investiu em novas linhas de produtos, passou do fio para cartelas de mechas para o segmento de beleza. Passou por produção de vassouras, suturas médicas, cordas de violão profissionais, entre muitos outros produtos novos. Eles expandiram e transformaram a matéria prima que seria commoditie, passando a observar mais quem está na outra ponta do negócio e o que ele ou ela querem. Produtos de alto valor agregado.
Não foi um processo fácil. Foi preciso criar um novo diálogo com o consumidor. Eles foram além e buscaram na academia um novo diretor de marketing e inovação. No fim, tudo compensou, simplesmente por serem criativos, não se restringirem, não se acomodarem, mas inovarem de forma pensada.
Assim como esse case de sucesso, certamente há muitas outras empresas, grandes ou pequenas, arrojadas ou conservadoras, de produtos ou serviços, que estão encontrando no caminho da inovação a estratégia ideal para se manterem ou crescerem diante de tantos desafios. Para quem busca superar a si mesmo antes que um concorrente o faça, essa é a melhor alternativa.
Procure ajuda de forma organizada. Se há risco em inovar em tempos de novas tecnologias, o risco muito maior é o de não inovar.
(*) – Professor de pós-graduação na ESPM, estatístico com MBAs na Kellog School (EUA) e Fundação CUOA (Itália), é CMO da Mazzaferro S/A e professor de pós-graduação na ESPM (www.mazzaferro.com.br).