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quarta-feira, 01 de março de 2023

Elétricos vendem pouco, mas são o centro das atenções

New Volvo XC40 T5 plug-in hybrid

Os carros elétricos representaram apenas 0,43% das vendas de veículos leves no país e somaram 8.458 unidades emplacadas em 2022.

Além do alto preço dos 100% elétricos, outro entrave é a infraestrutura. Segundo estudo da consultoria Roland Berger, o Brasil está em 20º lugar no índice global que mostra a infraestrutura para receber modelos elétricos.

Enquanto a eletrificação é tema de eventos e estratégia de montadoras, o CEO do Grupo Stellantis, Carlos Tavares, jogou um banho de água ao afirmar ao jornal Valor Econômico que a tecnologia não faz sentido no Brasil. “O elétrico não faz sentido se comparado com o carro que pode rodar com 100% de etanol”, segundo disse, apoiado em informações de cientistas. “Sem contar que é muito mais caro para a classe média”, emendou o executivo.

Nem por isso suas marcas – Fiat, Jeep, Ram, Peugeot e Citroën – ficam de fora. Ele afirmou que seus concorrentes vendem o elétrico com uma mensagem de modernidade, elegância e ecologia para pessoas ricas de áreas urbanas como segundo ou terceiro carro da família. E mesmo sendo um nicho de mercado, ele quer suas marcas competindo nele.

Tavares defendeu o uso do etanol, com grande produção no Brasil e uma tecnologia acessível. “Por que você desperdiçaria os recursos da sociedade em algo que não é melhor para o planeta?”, questionou.

Alíquota zero para elétricos

As discussões sobre a eletrificação estão aquecidas entre os players. Enquanto Stellantis, Volkswagen e Toyota defendem o uso do etanol em seus veículos hoje ou futuramente eletrificados, a Chevrolet abre mão dos híbridos com a intenção de saltar dos flex para os elétricos em 12 anos. A partir de 2035, a meta é vender apenas EVs, incluindo o Brasil.

A Anfavea, por sua vez, disse ser favorável ao fim da alíquota zero para importação dos elétricos. “Queremos criar condições para fabricar elétricos no país. Não queremos inundar o mercado brasileiro com produtos de países de custo muito mais baixo”, disse Marcio de Lima Leite, presidente da entidade.

Se para o bom entendedor meias palavras bastam, o dirigente da Anfavea mira o avanço de marcas chinesas que pretendem aumentar no Brasil seus volumes de modelos elétricos pequenos e mais acessíveis.

Ao mesmo tempo, são essas mesmas asiáticas que investem na fabricação local de elétricos leves nos próximos anos – caso de GWM, Caoa Chery e, em breve, a BYD (esta, inclusive com a produção de baterias).

Vamos ao que interessa: do poço à roda

Se energia renovável e descarbonização fazem parte do repertório, é preciso discutir o conceito “Do poço à roda”, que refere-se a tudo o que um veículo consome desde sua produção, suas emissões e de onde vem a energia para fabricá-lo e movê-lo, envolvendo a extração de recursos naturais em todo o seu ciclo.

Ou seja, não se mede mais só o que o carro emite. Se 75% da matriz elétrica global vêm de fontes não renováveis, qual sentido faz então o investimento nos carros elétricos? Talvez isso deveria ter sido dito por Carlos Tavares.

No Brasil, 47% da matriz energética é renovável, comparado a 14% do resto do mundo. Por isso, para a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o Brasil é líder em descarbonização. “Estamos à frente de países da Europa e da China”, afirmou Besaliel Botelho, presidente da entidade.

Abaixo, o gráfico do Ministério das Minas e Energia comparou as diferentes tecnologias e suas emissões de CO2, o que indica larga vantagem ao etanol.

Mão invisível e uma ajudinha do governo

Carlos Tavares. foto: Stellantis.

O problema do chefe da Stellantis foi ser arrogante. As leis do mercado é que devem reger as preferências.

Se o etanol for uma boa solução, sustentável e viável, certamente montadoras investirão nestas tecnologias. Mas outras opções são bem-vindas, desde que sejam acompanhadas de infraestrutura e respeito aos consumidores (principalmente no pós-venda).

Governos devem incentivar a entrada de novas tecnologias para fomentar a competitividade no Brasil e com isso, junto a legislações mais rígidas de emissões e segurança, melhorar a qualidade dos produtos.

Se não fossem leis e concorrentes importados, talvez ainda tivéssemos as carroças de outrora à venda nas concessionárias.

Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo, editora do portal www.viadigital.com.br e do canal @viadigitalmotors no YouTube. E-mail: [email protected]