Lucia Camargo Nunes (*)
Carros limpos, veganos e sustentáveis ditam as tendências do setor automotivo
Em todos os setores de atividade econômica, três letrinhas fazem parte de suas práticas: ESG. Na tradução livre, significa que a empresa faz uma gestão com preocupações ambientais, sociais e de governança.
A tendência é forte no segmento automotivo. São muitos os exemplos, mas nos carros eles estão cada vez mais presentes. Começando pelo planejamento das principais marcas europeias, asiáticas e norte-americanas em definir uma data para ampliar sua oferta de eletrificados.
É certo que ainda falta muita coisa para a indústria nos convencer de que produzem carros limpos do poço à roda, mas há boas iniciativas, que devem evoluir até tornarem-se obrigatórias por lei ou por forças do mercado.
BMW iX: inovações sustentáveis
Novos carros elétricos carregam uma série de atributos sustentáveis. Um dos mais aclamados recentemente é o BMW iX. Produzido na Alemanha, o SUV usa energia renovável em todos os seus processos, além de insumos sustentáveis na sua construção, com alto grau de elementos naturais e reciclados.
O BMW Group adquire o cobalto e o lítio para produzir as baterias de fontes controladas na Austrália e no Marrocos e os entregam aos fabricantes de células de bateria. O alumínio utilizado no carro é produzido a partir de usinas de energia solar.
O interior do iX possui madeira certificada e couro tingido com extratos de folha de oliveira. Redes de pesca recicladas estão entre as matérias-primas utilizadas para os revestimentos do assoalho e tapetes.
Pelo bem estar animal
A Volvo, na vanguarda da eletrificação, anunciou em 2021 que todos seus novos carros elétricos iniciariam um processo para eliminar de vez qualquer item ou componente de origem animal.
Numa chamada “decisão ética para o bem-estar animal”, a marca a sueca definiu que até 2025, 25% de tudo o que fosse utilizado em seus novos modelos teriam origem natural ou reciclada. E até 2040, a Volvo se tornará uma marca totalmente circular.
No lugar do couro, a Volvo criou o Nordico, novo material têxtil feito a partir de garrafas PET, material de florestas sustentáveis na Suécia e Finlândia e rolhas recicladas da indústria vinícola.
Luxo sustentável
Um dos lemas da Land Rover para seu próximo lançamento no Brasil, o Range Rover, que chega ainda este semestre, é o “luxo sustentável”. Em seu interior, o couro tradicional dá lugar a um novo material têxtil que combina Ultrafabrics™ e mistura de lã Kvadrat™.
Outros materiais alternativos podem ser encontrados em diversas partes do interior do veículo, como nos tapetes feitos com fios Econyl®, produzidos a partir de plástico industrial reciclado, retalhos de tecido e plásticos recuperados do oceano.
Bancos de cactos e cogumelos
A Mercedes-Benz apresentou na mais recente edição da feira de eletrônicos de Las Vegas (EUA), a CES 2022, um carro-conceito com soluções que em breve devem estrear em seus modelos de série. O Vision EQXX, por exemplo, possui um painel solar em seu teto: 117 células ajudam o carro a autogerar 25 km para sua autonomia.
Entre os materiais sustentáveis, há os bancos de Dessertex, estofamento derivado de cacto, e couro vegano feito de cogumelos.
O piso traseiro tem em sua composição plástico retirado de lixos de aterro, que incluem desde resíduos de jardim a fraldas de bebê.
Fim digno às baterias
Todos esses exemplos, alguns até disponíveis por aqui, vêm de fora. O Brasil ainda contribui pouco para engrossar esse volume de inovações, mas possui iniciativas que podem fazer diferença no futuro.
Recentemente, a BMW anunciou uma parceria com a Tupy, da área da metalurgia, e o Senai Paraná para a recuperação de compostos químicos das baterias em fim de vida de veículos elétricos.
Nesse projeto, a reciclagem das baterias seria feita por hidrometalurgia, ao invés da tradicional pirometalurgia, com menos emissões de gases de efeito estufa e menor necessidade de extração de minerais.
O BMW Group Brasil fornecerá seu conhecimento técnico e as baterias do i3 para o desenvolvimento do processo de reciclagem. Com duração de 24 meses, a pesquisa prevê investimentos de R$ 3,4 milhões.
*Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo. E-mail: [email protected]