Algumas empresas tem belos discursos acerca de sustentabilidade, minorias, empoderamento e outros temas que tocam o público.
Vivaldo José Breternitz (*)
Mas suas práticas frequentemente vão em sentido contrário, às vezes sendo francamente odiosas.
Mais uma dessas situações chega ao conhecimento do grande público: o Departamento de Justiça dos Estados Unidos está acionando o Uber, acusando a empresa de violar o Americans with Disabilities Act, a legislação que protege os portadores de necessidades especiais, ao aumentar as tarifas cobradas dos passageiros que demoram mais de dois minutos para embarcar em função de tal situação. Nesse tempo está compreendido inclusive o necessário a dobrar e embarcar cadeiras de rodas e andadores.
De forma cínica, a empresa diz estar surpresa e desapontada com as acusações, afirmando estar constantemente colaborando com o Departamento de Justiça na busca de soluções para quaisquer problemas que a envolvam. Diz também que dispõe de serviços específicos voltados para cadeirantes, em que não há aumento de tarifas em casos de demora para embarque – apenas deixa de dizer que esses serviços não são divulgados e estão disponíveis apenas em algumas poucas áreas.
A empresa disse também que está orientando seus motoristas a informarem quando a demora se dever a embarque de pessoas nessas condições, de forma a que as taxas não sejam cobradas, apesar de acreditar que a cobrança não é ilegal.
Vale lembrar também que a relação do Uber com seus motoristas e entregadores é de exploração, e que a empresa sistematicamente nega-se a rever suas práticas nessa área, apesar de já condenada em diversos tribunais.
Dado o histórico da empresa, fica difícil acreditar que qualquer providência será efetivamente tomada, ao menos no caso dos portadores de necessidades especiais, ficando claro que empresas desse porte acabam sendo um mal para a sociedade.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor do Programa de Mestrado Profissional em Computação Aplicada da Universidade Presbiteriana Mackenzie.