No mundo pós-pandemia, o espaço de trabalho deixou de ser exclusivo dos escritórios. Essa é, ao menos, a conclusão a ser tirada de uma recente pesquisa do Gartner, uma das principais companhias de pesquisa do mundo.
Flavio Guerra (*)
Segundo o estudo apresentado, quase metade da força de trabalho que migrou para o Home Office durante a crise do coronavírus, continuará a cumprir ao menos parte de suas atividades de maneira remota. E a tendência é de que esse número cresça substancialmente, à medida que esse modelo descentralizado seja colocado em prática.
Diante desse cenário, muita discussão tem sido promovida para debater as mudanças em nossa vida e na rotina das empresas. Há, porém, um outro lado importante nessa transformação, que pouco tem sido falada. Estamos falando, no caso, da necessária adequação da estrutura tecnológica que usamos diariamente para nos conectar com o mundo. A questão que fica aqui é: o que significa a ascensão do trabalho híbrido para a indústria de computadores?
Indo direto ao ponto, a ascensão de um modelo misto de trabalho exigirá que a diferença entre as soluções corporativas e domésticas terá de diminuir. Vale dizer que, segundo dados do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), um dos maiores desafios enfrentados pelas companhias durante os primeiros momentos da quarentena (e a migração para o Home Office) foi justamente a insuficiência de equipamentos adequados para o trabalho remoto.
Ao todo, mais de 35% das companhias afirmaram, no estudo do IBGC, que faltavam computadores e outros equipamentos fundamentais para o dia a dia de suas operações. Além disso, aproximadamente um quarto dos líderes também destacou a necessidade de lidar com sistemas incapazes de oferecer a performance exigida para a transferência de dados de maneira constante como um desafio que limitou a experiência das ações a distância.
Seja como for, o fato é que essas organizações precisarão se programar para atender a demanda por equipamentos e tecnologias que sustentem o expediente de seus colaboradores. Ainda que muitas companhias tenham adotado políticas do tipo “tragam seus próprios dispositivos” (BYOD, do Inglês Bring Your Own Device), é justo admitir que nem todas as posições e profissionais poderão ou deverão arcar com infraestrutura própria para continuar trabalhando – sem contar que sequer existe um entendimento legal sobre o assunto.
Para os profissionais que desejam ter seus próprios equipamentos, o trabalho híbrido certamente impactará na procura por soluções que entreguem melhores performances e menores custos. Não podemos deixar de mencionar que a pandemia também provocou a redução dos gastos não-essenciais, e que a escolha por equipamentos específicos certamente caminhará para uma trilha mais racional, em que a decisão de compra há de ser mais assertiva do que nunca.
O que empresas e usuários têm em comum, portanto, é a necessidade de encontrar soluções adequadas, que ofereçam mobilidade, desempenho e ergonomia suficientes para a execução das tarefas, e ao mesmo tempo sejam acessíveis. Em um cenário de incertezas, investir em desempenho e praticidade precisa ser mais valorizado do que marcas e grifes.
É neste espaço que a indústria pode ter sua grande oportunidade para ampliar ainda mais seu espaço. É hora de trabalhar para entender as demandas reais dos consumidores – corporativos ou pessoais –, e desenvolver soluções que, de fato, tragam diferenciais para a vida dos clientes.
O desafio, por outro lado, é entender que os consumidores não têm apenas uma demanda. Ao contrário. Com o trabalho híbrido, o mesmo cliente precisará de soluções especificas para sua rotina de trabalho e para seus momentos de entretenimento – preferencialmente em um só equipamento.
Cumprir esse desafio certamente exigirá um diálogo constante, com presença local real. Por mais que o mercado de PCs seja um segmento global, com as grandes inovações surgindo no contexto internacional, temos de deixar claro que o contexto exige uma mudança de eixo no atendimento das pessoas. Somente quem se debruçar a entender os desejos e necessidades dos clientes brasileiros é que estará apto a oferecer produtos e serviços adequados à realidade do consumo em nosso País.
O setor de PCs seguramente pode ser um caminho para revertermos as dificuldades da crise, criando caminhos para a retomada dos dias de sucesso. Será por meio das telas e computadores que o comércio (ainda que eletrônico) voltará a crescer, que as empresas poderão contratar novos talentos (de qualquer lugar) e que a todos nós poderemos retomar nosso contato com o mundo.
(*) É Sócio-diretor da DATEN.