O uso de tecnologia de ponta nem sempre é sinônimo de sucesso, como mostra o recente lançamento de satélites que deveriam fazer parte da constelação Starlink, destinada a garantir acesso à Internet a partir de praticamente qualquer ponto do planeta.
Vivaldo José Breternitz (*)
A Starlink que é mantida pela SpaceX, empresa pertencente a Elon Musk, receberia 49 novos satélites, lançados no início de fevereiro; no entanto, uma tempestade geomagnética fez com que 40 desses satélites fossem perdidos.
Neste caso, os prejuízos foram apenas de ordem econômica, mas às vezes podem ter desdobramentos trágicos ou cômicos, dependendo do ponto de vista do observador. Nessa linha, vale a pena lembrar o que aconteceu com o submarino alemão U-1206, no mês de abril de 1945. O sub, que navegava pelas costas da Escócia buscando afundar navios aliados, incorporava diversas novas tecnologias.
O U-1206 navegava a cerca de 70 metros de profundidade quando seu comandante, o Kapitänleutnant Karl-Adolf Schlitt precisou utilizar o vaso sanitário, que era de um novo tipo, com válvula de descarga que podia ser utilizada em grandes profundidades – antes dessa válvula entrar em uso, a descarga só podia ser acionada a profundidades menores que 25 metros, o que gerava grande desconforto à tripulação.
O comandante não conseguiu usar a descarga e chamou um marinheiro da manutenção para resolver o problema; este acabou acionando a válvula errada, o que permitiu que água do mar passasse a entrar no sub através do vaso – a entrada de água foi controlada, mas a água que entrou vazou para o compartimento das baterias situado logo abaixo do vaso. A água, em contato com as baterias, gerou cloreto de hidrogênio, um gás de odor irritante e que quando exposto ao ar forma vapores corrosivos de coloração branca, que podem ser fatais ao homem em curto período de tempo.
O comandante fez o barco emergir rapidamente, para fazer com que o vento expulsasse o gás. Para má sorte dos alemães, o U-1206 estava a apenas 8 milhas da costa, e foi rápidamente descoberto e atacado por um avião britânico; o ataque matou um marinheiro e danificou o sub que ficou impossibilitado de megulhar e acabou sendo abandonado e afundado pela tripulação – nesse processo, mais três homens morreram, sendo os demais 46 capturados pelos ingleses.
Assim acabou a primeira (e última) missão de guerra em que Schlitt comandou um submarino – durou exatamente nove dias… Mas Schilitt não era tão azarado quanto parece: nascido em 1918 lutou durante toda a guerra, foi ferido na queda de um avião em que morreu o piloto, foi prisioneiro de guerra, mas viveu até 2009.
Esses dois casos mostram que tecnologia de ponta não é sinônimo de sucesso. Quanto à Starlink, é bom relembrar que seus serviços começaram a ser vendidos no Brasil, a preços extremamente altos, ao menos para as pessoas comuns.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.