Roberto Moreno (*)
Já faz algumas décadas que existe um consenso sobre a importância de apresentar crianças e adolescentes desde cedo à língua inglesa.
Mais do que prepará-las para o mercado de trabalho, esse aprendizado tem como foco permitir que elas consigam participar de uma rede global de troca de conhecimentos e cultura.
Sabe-se, também, que o aprendizado de uma nova língua na primeira infância acontece de maneira mais fácil e estimula o cérebro, desenvolvendo a criatividade, o raciocínio e a capacidade de concentração. Tudo isso também pode ser dito da programação.
Quando uma criança tem acesso ao aprendizado da linguagem de programação e, desde nova, aprende a criar jogos e aplicativos, ela está desenvolvendo muito mais que uma competência técnica que já é muito demandada pelo mercado de trabalho — pesquisas demonstram que a busca por profissionais do setor cresceu mais de 600% só em 2020.
Ela tem a chance de ampliar sua criatividade, o pensamento crítico e matemático, além da sua capacidade de resolução de problemas. E por que isso importa?
Segundo uma previsão do Institute for the Future, uma organização fundada no Vale do Silício e que desde 1968 mapeia as principais tendências para o futuro, 85% das profissões que os estudantes do ensino superior terão até 2030 sequer existem no momento.
Esse dado não se trata somente sobre o mercado de trabalho, porque revela muito sobre as imensas transformações em todos os âmbitos da vida nas próximas décadas.
Com base em projeções como essa, é possível afirmar que o futuro trará grandes novidades e possibilidades que não somos nem capazes de imaginar e que a única certeza é que será preciso, mais do que nunca, muita adaptabilidade e resiliência para navegar por esses novos tempos. E o contato com a programação desde cedo abre uma porta justamente para esses skills que serão tão imprescindíveis no futuro.
Assim como inglês, que se mostrou uma habilidade cujo impacto vai muito além do mercado de trabalho e influencia os livros que se lê, as séries e filmes que se assiste e até mesmo as viagens e relacionamentos, a programação tem um potencial tamanho que as consequências positivas poderão ser observadas por toda a vida, independentemente da profissão que o jovem que a aprende optar por seguir.
Diversos países ao redor do mundo já notaram isso e inclusive incluíram esse ensino sem suas grades curriculares oficiais. O Reino Unido, por exemplo, desde 2013 ensina codificação para crianças a partir dos 5 anos. Já na Austrália, os princípios da programação são ensinados a partir dos 10 anos.
No Brasil, ainda caminhamos a passos lentos nessa direção. A partir de 2022, o novo ensino médio do país tem o desafio de trabalhar as competências ligadas ao uso, compreensão e criação de tecnologias digitais.
No entanto, é importante que a decisão a respeito desse aprendizado na vida das crianças e adolescentes não fique apenas na mão das escolas, e esteja no radar também dos pais. O envolvimento deles é crucial para promover interesse e curiosidade dos jovens a respeito desse novo conteúdo que será tão importante para o futuro.
(*) – Com MBA pela IESE Business School – Universidade de Navarra e formação em engenharia pelo Instituto Militar de Engenharia, é diretor pedagógico da Byju’s FutureSchool Brasil (www.byjusfutureschool.com).