Lançado em 1959, o COBOL – Common Business Oriented Language – é uma das mais antigas linguagens de programação ainda em uso.
Vivaldo José Breternitz (*)
Apesar disso, vem sendo cada vez mais usada, mesmo com o surgimento de inúmeras novas linguagens: em 2017, estimava-se estarem em uso programas que totalizavam 220 bilhões de linhas de código escritas em COBOL; em 2022, esse número passava de 800 bilhões.
No entanto, o COBOL tem a reputação de ser uma linguagem que torna difícil a manutenção das aplicações que a utilizam, pois um programador encarregado desse trabalho geralmente tem dificuldades para entender a lógica utilizada pelo que escreveu o código originalmente. Além disso, diz-se que ao serem processados, programas em COBOL consomem muitos recursos de máquina.
Dado esse cenário, pode-se perguntar: por que não migrar para uma linguagem mais moderna? A resposta é simples: é um trabalho caro e lento, que consome muita mão de obra; podemos dar como exemplo o caso do Commonwealth Bank of Austrália, que em 2012 começou essa migração, gastando no processo mais de 700 milhões de dólares e cinco anos de trabalho.
Ao longo dos anos, surgiram diversos aplicativos que prometiam traduzir programas escritos em COBOL para outras linguagens – nenhum deles obteve muito sucesso, especialmente do ponto de vista comercial.
Agora, a IBM se propõe a resolver esse problema: acaba de anunciar seu Code Assistant for IBM Z, um aplicativo que utiliza uma inteligência artificial capaz de traduzir programas escritos em COBOL para a linguagem Java.
Mas o cenário não é tão róseo: um estudo da Stanford University concluiu que ferramentas desse tipo podem deixar os programas traduzidos menos seguros que os originais, a ponto de a IBM recomendar que o código gerado pelo Code Assistant entre em produção apenas após ter sido revisado por especialistas humanos.
Riscos à parte, a IBM entende que ferramentas como o Code Assistant são importantes para seu futuro; hoje, cerca de 84% dos clientes que utilizam mainframes IBM utilizam COBOL, principalmente clientes dos setores financeiro e governamental, que evidentemente a empresa tem interesse em manter e cativar.
É um processo muito interessante, que as empresas usuárias de COBOL precisam observar com atenção, também em função de ser a mão de obra que pode criar e dar manutenção a programas escritos COBOL cada vez mais escassa.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas