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Presença feminina no mercado de trabalho de TI

em Tecnologia
terça-feira, 04 de maio de 2021

Área apresenta desafios para as profissionais por conta da pandemia

Sem dúvida alguma, a pandemia de covid-19 trouxe uma série de desafios para os profissionais no mercado de trabalho. Porém, uma das categorias que mais sentiu esse impacto foi a de mulheres que exercem atividades na área de TI.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apenas 20% do total de profissionais no setor de TI é mulher e, apenas uma em cada dez, está em cargo de liderança. Para Daniela Vieira Cunha, diretora na Faculdade de Computação e Informática (FCI) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), “as meninas são menos incentivadas a estudar a computação e seguir essa carreira, em comparação com os meninos. Aquelas que decidem pela carreira de tecnologia, desistem do curso técnico ou da graduação logo no início pela resistência e por barreiras que precisam enfrentar (de colegas e professores)”.

Daniela ressalta que muitas vezes, mesmo que as mulheres sejam insistentes, inevitavelmente passarão por situações que precisarão provar que são capazes de resolver problemas, que possuem habilidades e competências e são capazes de competir de igual para igual.

Para Miriam Rodrigues, especialista e professora da área de gestão de pessoas e comportamento organizacional, isso é um reflexo da “vida real”, já que estereótipos e preconceitos existem e persistem. “Ainda que gestores e empresas defendam um discurso de igualdade, na prática, o que percebemos é que as mulheres são colocadas à prova a todo momento, e, em muitos casos, além do necessário”, afirma.

Dessa forma, os resultados de uma pesquisa realizada pela Kaspersky com a Arllington Research com 13 mil profissionais em 19 países, dos quais 500 eram brasileiros, apenas reforça o que já é conhecido na área, só que com um novo agravante: a pandemia de coronavírus. Para 40,4% mulheres entrevistadas, as mudanças impostas pela pandemia podem ser responsáveis por atrasar o desenvolvimento profissional delas – ou seja, mesmo que o mercado de TI esteja aquecido por conta do boom da utilização de diversos serviços tecnológicos, quase metade das mulheres vê um cenário nebuloso pela frente.

Outro ponto analisado pela pesquisa é o home office, que apesar de ser visto com bons olhos por 42,6% dessa mulheres, o lado negativo está na sobrecarga de atividades, já que 78% das profissionais brasileiras entrevistadas são responsáveis pela educação dos filhos, e 68% cuidam do trabalho doméstico.

Cunha concorda com essa visão. “O trabalho remoto permitiu uma flexibilidade de dedicação maior para que a mulher cuide dos filhos e das atividades domésticas e cumpra com os objetivos traçados na empresa, ao mesmo tempo que reforçou a importância do compartilhamento de tarefas pela família”, afirma.

Liderança feminina no setor
Como observado por Daniela, a questão da liderança feminina no setor de TI também merece atenção. Muito disso se dá por conta da associação do conceito de liderança com a imagem masculina e em uma área que evidencia essa disparidade entre gêneros, impossível esperar algo diferente nos cargos mais altos.

Ademais, ela comenta que essa visão é antiquada, visto que “pesquisas de comportamento comprovam que as mulheres possuem as mesmas habilidades de liderança que os homens, ou até melhores. Portanto, se a liderança vai ter sucesso ou não, é necessário oferecer a chance da pessoa se provar no cargo.

Expectativa para o mercado de trabalho
Ainda sobre a pesquisa da Karspersky, Pollyana Notargiacomo, especialista e professora na área de tecnologia e educação, destaca que 56% das mulheres que responderam à pesquisa apontam que houve um crescimento da igualdade de gênero nas organizações nos últimos dois anos, assim como 69% destacam que há maior respeito às opiniões que elas tecem independentemente do gênero.

Essa visão otimista é reforçada por dados apresentados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que indica um aumento de 60% nos últimos cinco anos, apesar de ainda significar o baixo número geral. Contudo, essa presença reflete na mudança de comportamento geral da área. Ainda assim, Pollyana analisa que o balanceamento entre os gêneros de profissionais de TI requer a consideração da experiência e das instâncias que influenciam a carreira, para que seja possível às mulheres planejar e utilizar ferramentas para mitigar essas variáveis e ampliar a representatividade feminina em cargos decisórios de TI.

Ademais, para Daniela, “a tendência é termos um mercado igualitário em alguns anos. Mas desejamos que essa igualdade seja atingida o quanto antes. Com auxílio de empresas e do setor educacional hoje temos mais mulheres em cargos importantes em empresas e universidades na área de TI o que incentiva e inspira ainda mais mulheres a seguirem os mesmos passos”, conclui.