Já faz um tempo que o comportamento das pessoas para consultas e transações financeiras passou a ser digital. De acordo com recente pesquisa da FEBRABAN relacionada ao comportamento financeiro em 2019, o orçamento total que o segmento de tecnologia obteve dos bancos foi de R$ 24,6 bilhões, 24% maior do que os R$ 19,8 bilhões registrados em 2018.
Reginaldo Santos (*)
Agora com a pandemia global de COVID-19 uma série de adaptações tecnológicas tornaram-se necessárias para que o setor bancário continue a operar de forma cada vez mais digital. Mas, qual é o verdadeiro impacto da tecnologia nos bancos neste momento tão delicado?
Antes de mais nada, é importante contextualizar e relembrar as iniciativas realizadas pelos bancos neste momento. No que diz respeito aos negócios, as primeiras medidas adotadas foram a criação de linhas de crédito e a prorrogação/renegociação dos contratos vigentes. O impacto recessivo da COVID-19 sobre a economia reduz a inflação e torna o ambiente cada vez mais propício à queda das taxas de juros, cuja tendência de declínio já se apresentava desde antes da crise. Outro aspecto a ser considerado é que, embora tenha havido um crescimento da abertura de novas contas bancárias, grande parte desses clientes não tem perfil de consumo de outros produtos bancários. Logicamente, os bancos terão que tentar capitalizar e fidelizar estes clientes. Desta forma, é necessário que estejam preparados para lidar com este cenário e todas essas questões, especialmente para o risco de perdas, uma vez que inevitavelmente ocorrerão inadimplências.
A resposta para o enfrentamento desta situação passa cada vez mais pela tecnologia, pela digitalização de tudo o que envolve a atividade bancária. Em relação ao atendimento, é extremamente necessário educar o comportamento dos clientes durante o período da crise, ensinando-os e incentivando-os a poupar, direcionando-os para as linhas mais interessantes, entre outros.
No campo dos produtos tornou-se ainda mais importante acelerar o que já estava sendo feito para operacionalizar as vendas e os serviços digitais. De fato, existem bancos mais maduros e outros menos, porém, o caminho do digital foi obrigatoriamente acelerado neste momento. Há questões bem especificas a serem tratadas, como por exemplo, os refinanciamentos que, neste momento, apresentam-se como cruciais. Existem necessidades relacionadas ainda a ajustes no modelo operacional e ao controle de custos, já que investir em soluções que sobreviverão após a pandemia e que continuarão interessantes é sempre o caminho mais estratégico.
Atendimento ao cliente X tecnologias nos bancos
A multiplicação dos canais digitais de atendimento é uma solução já existente, mas deve ser aprimorada. Hoje, diversos bancos já utilizam tecnologias mais avançadas como inteligência artificial e chatbots, para minimizar a necessidade de interação com os atendentes. Os bancos que já nasceram digitais estavam com toda a plataforma tecnológica preparada para o atendimento não presencial. Alguns bancos tradicionais, no entanto, por conta da pandemia tiveram que acelerar a corrida por mudanças em sistemas e procedimentos, inclusive com a reconstrução de suas plataformas de internet banking e mobile banking.
O aumento da demanda por canais digitais reforçou a necessidade do segmento bancário em ampliar e aprimorar os seus recursos, com a implementação de novas tecnologias. A multicanalidade, por exemplo, consiste em oferecer várias formas de acessar os produtos, por meio de canais diferentes. Já o conceito omnichannel, representa oferecer uma ótima experiência ao cliente independentemente do canal pelo qual o cliente entrou e uma resposta padronizada e satisfatória. Além disso, há a continuidade do atendimento. Para o omnichannel, ainda há um caminho a ser perseguido e este é mais um processo no qual os bancos que já nasceram digitais possuem vantagem frente aos bancos tradicionais.
O open banking é outro conceito, mais do que nunca, importante, já que permite que as pessoas levem seus históricos de relacionamento com uma determinada instituição financeira para outra, democratizando o segmento e permitindo uma maior competição no setor. Ou seja, o usuário final terá acesso às suas informações financeiras para compartilhar com a instituição financeira que desejar e com isso buscar melhores taxas e preços, com liberdade ao cliente de diversificar o ambiente e alinhar os serviços financeiros de acordo com os seus interesses.
Desafios da tecnologia nos bancos
É fato que hoje, não ser digital não é uma opção. A digitalização para atender aos clientes é importante e necessária. O desafio é quebrar a mentalidade tradicional, mesmo em um banco que já nasceu 100% digital e entender qual é a real necessidade do cliente. Um exemplo, é a abertura de conta. Muitas vezes, é irrelevante para o cliente se existem ou não pessoas e processos por trás, se ao final ele conseguir abrir sua conta virtualmente. Sendo assim, um processo que ainda não é 100% digital atinge essa necessidade do cliente. Porém, quando olhamos internamente, este banco gastou muito mais do que um banco completamente digital. A pandemia evidenciou que as instituições que estavam mais avançadas nesse processo encontram-se em uma posição mais vantajosa.
Pagamentos instantâneos e open banking
Recentemente, o Banco Central anunciou que o sistema de pagamentos instantâneos (PIX), será gratuito para pessoas físicas. Segundo o BC, o baixo custo para o consumidor é uma questão central do PIX, já que a iniciativa se propõe a ser um meio de pagamento acessível para quem paga e para quem recebe, além de permitir um funcionamento 24×7, simples e sem burocracia. O PIX promete transações seguras com período de liquidação de poucos segundos, sem restrições de datas ou horários. É uma iniciativa que vem ganhando força em outros países e proporciona assim, um ambiente disruptivo e novo no Brasil. O PIX veio para trazer uma experiência mais rápida para o consumidor já que a movimentação financeira é instantânea, diferentemente de uma TED, em que você tem um tempo para a compensação.
Considerando o PIX e o open banking, onde os dados passam a estar disponíveis, está mais fácil criar um negócio novo hoje no setor financeiro do que há dois anos, por exemplo. O PIX e o open banking permitirão a inclusão de mais pessoas nesse universo financeiro, sendo uma excelente oportunidade para oferecer serviços diferenciados. Até 2010, o mercado financeiro no Brasil era fechado e reduzido a um pequeno número de instituições. Após essa abertura, empresas focaram em inovação e apostaram em tecnologia para criação de produtos e soluções para as Instituições de Pagamentos – IP. Embora sejam muito semelhantes aos bancos tradicionais, especializados em intermediar o dinheiro investido e empréstimos, as IPs viabilizam serviços de pagamento e cobrança e movimentação de recursos, diferenciados dos bancos.
Por todos estes aspectos mencionados, o forte impacto da COVID-19 no setor bancário acentuou ainda mais a busca por soluções tecnológicas. O desafio imposto pela pandemia escancarou a importância e a urgência em investir em tecnologias que mantenham e promovam a relevância das instituições financeiras.
(*) É Diretor Executivo da Provider IT, uma das principais consultorias e provedoras de serviços de TI do país.