Em 1833 um novo negócio, a exportação de gelo dos Estados Unidos para a Índia entrou em operação, viabilizado por novas tecnologias, como ferramentas que permitiam a retirada com rapidez e facilidade de grandes blocos de gelo de lagos congelados e navios com porões isolados termicamente, que possibilitavam que o material resistisse a longas viagens e altas temperaturas.
Vivaldo José Breternitz (*)
O primeiro embarque, 180 toneladas de gelo, deixou Boston rumo a Calcutá a bordo do veleiro Tuscany, chegando à Índia depois de uma viagem de quatro meses. A empreitada era comandada por Frederic Tudor, também conhecido como o “Rei do Gelo”, que já tinha operações de remessa do produto para o Caribe e sul da Europa, destinos muito mais próximos que a Índia.
Até a chegada do gelo americano, usava-se na índia o chamado gelo Hooghly, produzido a partir de água do rio do mesmo nome, que durante uma curta parte do inverno indiano congelava em poços da região de Bengala. Esse gelo, no entanto, era impróprio para o consumo, sendo utilizado apenas para resfriar recipientes.
Ao chegar à Índia, o gelo era armazenado em depósitos também isolados termicamente. Era um produto caríssimo, e a Índia se tornou um mercado muito lucrativo para Tudor, deliciando especialmente apreciadores de bebidas como o gin tônica.
Mas o conceito de destruição criativa, popularizado pelo austríaco Joseph Schumpeter em seu livro de 1942 “Capitalismo, Socialismo e Democracia, foi inexorável: em 1878 foi criada a Bengal Ice Company, a primeira fábrica de gelo a operar na Índia, que produzindo gelo muito mais barato, permitiu que esse negócio de Tudor durasse apenas mais quatro anos, o que não o impediu de viver muito confortavelmente até uma idade bastante avançada.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.