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Mais dados: sinônimo de mais saúde?

em Tecnologia
quarta-feira, 02 de setembro de 2020

Cada vez mais equipamentos estão chegando ao mercado prometendo capturar dados que serão úteis para melhorar a saúde das pessoas

Vivaldo José Breternitz (*)

Em um período muito curto de tempo, esses equipamentos evoluíram de simples medidores de pulsação e contadores de passos dados em corridas ou caminhadas, para complexas aplicações que prometem guiar-nos, e aos nossos médicos, na busca da melhoria de nosso estado geral, na prevenção e até mesmo na detecção de algumas doenças, antes mesmo de que algum sintoma se manifeste.

Como exemplo dessa evolução, está o lançamento, pela Amazon, da Halo, uma pulseira que coleta dados acerca de nosso corpo e passa-os a um aplicativo que gera informações que podem vir a ser transmitidas a nosso médico. Tudo isso por modestos 99 dólares, com desconto de 35% no lançamento, mais uma mensalidade de 4 dólares.

A ideia básica por trás desses equipamentos, é que mais dados podem nos tornar mais saudáveis, mas não é o que parece estar acontecendo no mundo real, ao menos para a maioria das pessoas. Alguns podem ser incentivados a se exercitar mais ou usar o aplicativo para controle de peso, mas realmente isso não justifica o investimento, pois os resultados prometidos não parecem estar sendo alcançados.

Este parece ser mais um caso em que uma tecnologia vai demorar muito a ter aplicação prática para um grande número de usuários. O grande problema é que as pessoas não sabem o que fazer com os dados coletados; as empresas fornecedoras sabem disso e prometem sugestões aos usuários e seus médicos.

A Amazon, por exemplo, diz que a Halo é capaz de sugerir quais tipos de exercício podem ser melhores para seus usuários. A Fitbit, que fornece pulseiras e relógios, diz que seus gadgets podem gerar eletrocardiogramas e outras informações sobre a saúde de seus usuários, chegando a medir seu nível de stress. A Apple e a Samsung trilham caminhos semelhantes.

Algumas dessas empresas trabalham no sentido de integrar as informações coletadas em prontuários eletrônicos, afim de permitir que sinais de alarme gerados por esses aplicativos sejam enviados em tempo real a médicos ou clínicas. Para casos não críticos, fala-se até no envio de um boletim diário ao médico do usuário.

É difícil acreditar, especialmente aqui no Brasil, que medidas como essas terão alguma utilidade a curto ou médio prazos; além disso, elas despertam preocupações com relação à privacidade dos usuários.

Em conclusão, pode-se dizer que se as vendas desses gadgets forem grandes, ao menos no curto prazo, será por razões ligadas a modismos.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.