Camp Pendleton é uma das maiores bases militares dos Estados Unidos. Localizada no sul da Califórnia, próximo a San Diego, abriga milhares de soldados, em sua maioria, pertencentes ao Corpo de Fuzileiros Navais.
Vivaldo J. Breternitz (*)
Existe na base uma área onde permanecem detidos os militares acusados de transgressões disciplinares – transgressões, e não crimes; transgressões são ofensas relativamente leves aos regulamentos, em função das quais os militares podem ser privados da liberdade por até 30 dias.
Nestes tempos em que se fala tanto aqui em “direitos humanos” (que devem ser garantidos a todos e que numa inversão de valores estão sendo sonegados ao cidadão comum), humanização das prisões etc., convém verificar qual é o regime a que estão sujeitos esses cidadãos do Primeiro Mundo acusados de transgressões disciplinares leves.
Os detidos tem aulas e programas de aconselhamento em tópicos como gerenciamento de stress e de problemas financeiros, cortesia e tradições militares etc., além de um intenso programa de treinamento físico – aqueles que se recusam a participar desses programas, tem seus casos submetidos à Justiça Militar e provavelmente serão expulsos do Corpo, o que nos Estados Unidos significa problemas sérios na busca de emprego, escola etc.
A rotina diária inicia-se às 5 da manhã (6 aos domingos), encerrando-se às 22 horas, quando as luzes são apagadas. Além dos exercícios físicos diários, há semanalmente uma corrida de 25 km. Para aumentar o espírito de corpo, os detidos quebram pedras, utilizando marretas em ritmo cadenciado, que é marcado por gritos de guerra dos Fuzileiros.
Também carregam troncos por grandes distâncias, como forma de mostrar que o trabalho em equipe é mais produtivo e que os mais fracos devem ser ajudados pelos mais fortes. Evidentemente, todos os outros trabalhos de limpeza e manutenção da área são executados pelos detidos.
Como forma de aperfeiçoar a civilidade, os detidos devem pedir licença aos seus guardas para lhes dirigirem a palavra, e não podem utilizar a primeira pessoa: “Este detido deseja lhe falar, sr. Sargento”, ou “Este detido necessita ir ao sanitário”, são exemplos da linguagem que deve ser utilizada.
Os Fuzileiros são muito ciosos da civilidade, do protocolo: a título de curiosidade, quando um membro do Corpo deve responder positivamente a uma questão formulada por um superior ou por um civil, diz “Yes, Sir”; quando recebe uma ordem direta, tem que confirmar ter entendido essa ordem, situação em que responde dizendo “Aye aye, Sir”.
Como foi dito, trata-se de cidadãos de um país do Primeiro Mundo, acusados de transgressões disciplinares leves. Não seria o momento de traçarmos um paralelo acerca do que nossos criminosos estão reivindicando e de como nossos cidadãos comuns, que trabalham e pagam impostos, estão vivendo? Que tal deixarmos de lado a hipocrisia e tratarmos aqueles que mataram, estupraram e roubaram, não importa sua condição social, idade etc., de forma a que os cidadãos comuns possam ao menos viver um pouco mais tranquilamente?
(*) Vivaldo José Breternitz é executivo de instituição financeira e professor universitário ([email protected]).