Vivaldo José Breternitz (*)
Geoffrey Hinton, um dos mais importantes especialistas em inteligência artificial de todo o mundo, demitiu-se de suas funções no Google, onde estava há mais de uma década, dizendo-se arrependido por ter contribuído para a aceleração do avanço dessa tecnologia.
Hinton falou de sua demissão em entrevista concedida ao New York Times, na qual afirmou estar preocupado com o potencial de uso indevido da IA; também afirmou que os pesquisadores devem desacelerar o desenvolvimento dessa tecnologia até que os riscos associados a ela sejam mais claramente compreendidos e que sejam criados métodos de controle da tecnologia e algum tipo de regulamentação global acerca do assunto.
Hinton, também professor da Universidade de Toronto, pesquisa IA há mais de três décadas, onde desenvolveu estudos auxiliado por alunos como Ilya Sutskever, que se tornou o cientista-chefe da OpenAI, criadora do ChatGPT.
Por suas contribuições à área, Hinton recebeu o Turing Award de 2018, que é considerado o prêmio mais importante da área de ciência da computação; dividiu o prêmio com outros pioneiros do campo da IA, Yoshua Bengio e Yann LeCun
Referindo-se à disputa entre o Google e a Microsoft no campo de IA, especialmente no que se refere a chatbots, Hinton expressou preocupação de que a competição entre as duas empresas no mercado de IA possa trazer consequências imprevisíveis para a sociedade.
Hinton alertou que esses chatbots, classificados como inteligências artificiais generativas, podem ser usados para inundar a Internet com grandes quantidades de fotos, vídeos e textos falsos, fenômeno que pode levar a uma situação na qual os usuários não serão mais capazes de saber o que é verdade ou mentira. A título de curiosidade, consulta que fizemos ao ChatGPT informou que Hinton deixou o Google em 2021, o que evidentemente não é verdade.
Recentemente, um grupo de proeminentes executivos e pesquisadores da área apresentou sugestão semelhante em uma carta aberta amplamente divulgada, que foi assinada inclusive por Yoshua Bengio, um dos dois pesquisadores com quem Hinton dividiu o Turing Award.
Em resposta às declarações de Hinton, o cientista-chefe do Google, Jeff Dean, deu uma resposta burocrática, dizendo que “a empresa está comprometida com uma abordagem responsável da IA e que está continuamente aprendendo a entender os riscos emergentes, enquanto inova com ousadia” – ou seja, que não pretende tomar qualquer providência.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas
