O professor Kevin Verstrepen, da Katholieke Universiteit Leuven, da Bélgica, liderou uma pesquisa que procurou definir formas de utilizar a inteligência artificial (IA) para melhorar o gosto da cerveja.
Vivaldo José Breternitz (*)
Falando à revista Nature Communications, Verstrepen descreveu como ele e sua equipe analisaram em laboratório a composição e as propriedades de 250 cervejas belgas de 22 tipos diferentes, produzidas em escala comercial.
Entre as propriedades estudadas estavam o teor de álcool, pH, concentração de açúcar e a presença e a presença de mais de 200 compostos diferentes responsáveis pelo sabor das cervejas.
Além disso, 16 degustadores experimentaram e atribuíram notas a cada uma das 250 cervejas, considerando 50 atributos diferentes, como sabor, doçura, acidez etc. Esse processo durou três anos.
Os pesquisadores também coletaram 180 mil avaliações de diferentes cervejas feitas por usuários da plataforma online RateBeer, descobrindo que, embora a o resultado dessas avaliações fosse influenciado por fatores como preço, eles se correlacionaram bem com as dos degustadores.
Usando todos esses dados, a equipe de pesquisadores construiu modelos baseados em aprendizado de máquina – uma forma de IA – para prever o gosto de uma cerveja a partir de sua composição e como ela seria avaliada.
Em seguida, eles usaram esses modelos para alterar o sabor de uma cerveja já produzida comercialmente, essencialmente adicionando substâncias apontadas pelos modelos como sendo responsáveis por melhorar o sabor dessa cerveja, que depois de alterada foi submetida aos degustadores, que reconheceram a melhora.
Sabendo do alto conceito de que gozam as cervejas belgas, apreciadores poderiam se preocupar com o uso da IA para a mudança de cervejas tradicionalmente tidas como excelentes, mas Verstrepen disse que a principal aplicação do produto de suas pesquisas deve ser a melhoria dos sabores das cervejas sem álcool, quase sempre tidos como insatisfatórios e que o conhecimento dos mestres cervejeiros permanece vital, mesmo nesses tempos de IA.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].