Vivaldo José Breternitz (*)
Quando pensamos que a vida online não pode ficar pior do que já é, o novo chatbot BlenderBot 3 lançado pela Meta prova que estamos errados.
O BlenderBot 3 é um robô de software baseado em inteligência artificial que pode conversar com as pessoas sobre praticamente tudo que está na internet. Os chatbots aprendem a interagir conversando com o público; por essa razão, a Meta está incentivando adultos residentes nos Estados Unidos a falarem com o chatbot para ajudá-lo a aprender a conversar naturalmente; porém isso significa que ele pode também refletir o lado mau das pessoas, mentindo e não considerando aspectos éticos.
O BlenderBot 3 obtém informações na internet para conversar com as pessoas e memoriza as conversas que já teve, procurando adaptar suas respostas às características e interesses de seus interlocutores.
Entre outras afirmações, o robô disse que Trump ganhou as eleições de 2020 e é o atual presidente americano e mostrou ser antissemita, ao dizer que o povo judeu controla a economia mundial. Ironicamente, afirmou que o Facebook dissemina notícias falsas, apesar de ser de propriedade da Meta, antes chamada Facebook – talvez o chatbot tenha razão nesse ponto… Também descreveu o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, como “muito assustador e manipulador”.
Essas declarações do robô foram feitas em conversas que manteve com repórteres de importantes órgãos de imprensa, como Business Insider e Bloomberg, que foram os responsáveis por sua divulgação.
Essa não é a primeira vez que um chatbot mostra o lado ruim das pessoas com quem aprende: o LaMDA, do Google recentemente fez afirmações racistas e sexistas, e em 2016 um chatbot da Microsoft chamado Tay foi retirado do ar por 48 horas, depois de começar a elogiar Hitler.
Tudo isso deve manter a sociedade como um todo em alerta: robôs de software podem ser muito úteis, mas também muito perigosos. Os envolvidos com o tema devem ter sempre em mente as três Leis da Robótica enunciadas pelo escritor Isaac Asimov, especialmente a primeira: “Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas