Não há um único setor que tenha ficado intocado pelo impacto transformador da inteligência artificial (IA) nos últimos anos e os serviços financeiros não são exceção.
Vivaldo José Breternitz (*)
Esse setor é conhecido por buscar todas as oportunidades possíveis para maximizar seus resultados, sendo natural que o uso de IA e aprendizado de máquina tenha chegado a ele.
Uma infinidade de casos de uso está aproveitando o poder da IA no setor, desde detecção de fraudes, avaliação de riscos, melhoria da satisfação dos clientes, aumento da automação no controle e registro de operações até negociação algorítmica, mais conhecida no Brasil como trading algorítmico.
O trading algorítmico, no Brasil concentrado em operações em bolsas, que começou a ser utilizado, de forma bastante tímida, nos anos 1980, desenvolveu-se muito, especialmente nas chamadas negociações de alta frequência, em que aplicativos decidem momentos e valores para comprar e vender papéis, baseados em aprendizado de máquina.
IA não vem apenas automatizando processos, mas também tornando mais produtivos os profissionais da área, raros e caros, livrando-os de tarefas repetitivas e fornecendo-lhes subsídios para definição de estratégias e outras atividades ainda não passíveis de automação.
Com a grande quantidade de oportunidades de aplicação em finanças, a IA também enfrenta vários desafios, como a necessidade de regulação e governança de forma a que tenhamos a garantia de que algoritmos não tenham embutidos preconceitos de qualquer tipo, que prejudiquem clientes de quaisquer grupos, etários, profissionais etc.
Também é preciso levar em conta a possibilidade de ocorrência de eventos do tipo “black swans” ou “cisnes negros”, eventos muito raros, repentinos e de grande impacto que poderiam levar um algoritmo a tomar decisões equivocadas, prejudicando clientes e as próprias instituições financeiras, por não ter tido tempo de aprender sobre um novo cenário – a pandemia e a guerra na Ucrânia são exemplos desses eventos.
Organismos internacionais, como a OCDE e institutos de pesquisa como o IDC, estimam que os gastos globais com IA devem mais que dobrar no período 2020-24, passando de US$ 50 bilhões para cerca de US$ 120 bilhões.
Do ponto de vista de empregabilidade, abre-se um cenário de grandes oportunidades, de vez que há uma enorme carência de profissionais de tecnologia da informação voltados à IA. Aqueles que atuam nos serviços financeiros devem ficar atentos à possibilidade de eliminação de funções e à necessidade de aprendizado também na área de IA.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT.