Tecnologias devem ser aplicadas não só para as atividades na lavoura, como também para a gestão dos empreendimentos, com as especificidades que a área exige, apontam especialistas.
Que as lavouras estão mecanizadas e inteligentes, não há dúvidas: a eficiência do agronegócio brasileiro é referência no mundo, e decorre em boa parte do avanço tecnológico nas práticas de produção. O passo a ser dado, agora, está na automação dos processos de gestão. Nesse salto está o grande diferencial para o setor.
Essa foi uma das mensagens transmitidas no “Agrotech – encontro de tecnologia e tendências de gestão no agronegócio”, promovido no último dia 30 pelo ROIT BANK, fintech e accountech com sede em Curitiba e clientes corporativos das mais diversas atividades econômicas, e pela Agrotis, fornecedora de soluções em tecnologia da informação (TI) voltadas ao agro. A webinar envolveu profissionais e empreendedores da cadeia do agronegócio.
Fundador e CEO do ROIT BANK, Lucas Ribeiro apresentou aplicações práticas de inteligência artificial e robotização em gestão contábil, fiscal, tributária e financeira, adequadas às especificidades de corporações ligadas ao campo. Ribeiro explicou como funcionam as tecnologias desenvolvidas pelo ROIT BANK, como o Portal do Fornecedor e a Esteira Mágica, soluções que proporcionam vantagens aos diversos elos da cadeia produtiva.
Por meio de robôs e inteligência artificial, ganha-se em agilidade e em precisão na gestão contábil, fiscal, tributária e financeira das empresas. “Nosso robô fiscal, por exemplo, tem acumulado mais de 2,1 bilhões de cenários tributários analisados, algo humanamente impossível de ser feito”, assinalou Ribeiro, acrescentando: “não se trata de trocar pessoas por robôs. É trocar processos, muito mais eficientes, escaláveis, capazes de gerar produtividade – que, por sinal, é palavra de ordem do agronegócio”.
As soluções do Portal do Fornecedor e Esteira Mágica viabilizam, de um lado, antecipação de recebíveis, para os fornecedores; de outro, postergação do pagamento a fornecedores, pelas empresas. Vantagens em fluxo de caixa para todos os elos. “[Sobre inovações tecnológicas] escutamos todos os dias. Mas ainda há muita teoria. Precisamos ir para a prática. E muitas empresas do agronegócio já tomaram essa decisão, de entrar no mundo da tecnologia, de verdade”, ressalta o CEO do ROIT BANK.
Por sua vez, o chefe de Segurança da Informação da Ativy Digital, Bruno Giordano, pontuou a importância da cibersegurança para as empresas do agronegócio. A Ativy Digital é especializada em soluções em nuvem, e traz a preocupação com a proteção na internet na sua identidade. “Até o final de 2021, as empresas [em todo o mundo] terão investido US$ 1 trilhão em cibersegurança. No entanto, o cibercrime deverá lucrar US$ 6 tri”, comparou Giordano, frisando a volúpia dos cibercriminosos.
O especialista sublinhou a importância do que chama de “gestão de vulnerabilidades”, o que inclui da identificação das fragilidades às correções, passando por providências preventivas. Particularmente para o agronegócio, os principais riscos estão na ofensiva de ransomware (ingresso de softwares maliciosos que sequestram informações e dados, liberados só mediante pagamento de resgate). Violação de dados e indisponibilidade de sistemas estão entre as consequências dessas ofensivas.
“Temos casos como um em que determinado colaborador foi carregar um celular, conectando a um computador [da empresa agropecuária]. Só que ele não sabia que o celular estava com uma ameaça embarcada. Quando conectou o celular no computador, acabou disseminando essa ameaça, afetando, inclusive, a planta industrial. Ou seja, é um problema que impacta também a produção”, exemplificou Giordano.
Em convergência com as falas de Ribeiro e Giordano, o diretor Comercial da Agrotis, Evaldo Hansaul, assinalou que a tecnologia em processos se estabelece, então, como vantagem competitiva para as empresas do agronegócio. A Agrotis é uma fornecedora de soluções em TI voltadas para organizações desse setor. “A tecnologia deixou de ser um desejo. Tornou-se obrigatória. Mas há um desafio: saber qual, entre tantas opções tecnológicas, utilizar. E como utilizar”.
Hansaul citou dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre as principais tecnologias que o agronegócio já incorporou. Internet (70% dos negócios) e aplicativos (57%) estão entre as mais recorrentes; GPS (20%), imagens de satélites (17%) e sensores (16%), como aquelas ligadas diretamente ao processo produtivo. Já tecnologias de gestão estariam em 22% dos empreendimentos. “Um dos desafios é estabelecer a integração entre essas tecnologias”, afirmou.
O diretor da Agrotis levantou também alguns pontos para reflexão, baseados em dúvidas comuns entre os profissionais e empreendedores do agronegócio, quando o assunto é transformação digital. Por exemplo, certa resistência à incorporação de novas tecnologias e práticas, algo apontado pelos debatedores do evento como um aspecto cultural de, no primeiro momento, refutar o novo.
Outra questão trazida por Hansaul se refere à guarda e ao tratamento de dados e informações, os quais muitas vezes ficam restritos a um profissional ou pequena equipe. Os dados e o conhecimento gerados devem ser entendidos como algo da organização, não algo de propriedade de alguém. Nesse aspecto, a automação e a inteligência artificial tornam o conhecimento produzido como algo organizacional, assinalaram os debatedores.