Quem nunca se sentiu tentado a contar uma mentira durante uma entrevista de emprego, mesmo que pequena, para ‘complementar’ alguma qualidade que o recrutador esteja procurando?
Wagner Santos (*)
Por mais que não seja recomendável, mentir é um ato comum nessas horas. Cerca de 42% das pessoas o fazem nos currículos, segundo pesquisa realizada por uma empresa de recrutamento global. Mas essa prática, tão recorrente, pode estar com os dias contatos.
Com a chegada da Transformação Digital às áreas de RH, os recrutadores ganharam ferramentas baseadas em Inteligência Artificial (IA), capazes de ajudar a avaliar o comportamento e as emoções dos candidatos, a partir de leitura facial e corporal, e assim identificar situações e emoções que tentamos esconder, como no caso de aflição, hesitação, insegurança, ansiedade, medo ou descontentamento, por exemplo. Essa tecnologia permite aos gestores detectar algo que possa colocar em dúvida uma afirmação ou dado fornecido durante a entrevista, para checagem posterior.
Muitas empresas já têm aplicado a IA no recrutamento e seleção, para, por exemplo, gravar as entrevistas e depois analisar as expressões faciais e corporais, com base em um banco de dados com milhões de imagens, como postura, movimento das mãos, dos olhos, da boca etc. Essa tecnologia identifica cada microexpressão na face e nos gestos da pessoa, e indica a emoção correspondente, com um percentual de confiabilidade que pode chegar a até 85%.
Dessa forma, a seleção dos melhores candidatos se torna mais assertiva, e no caso das empresas de grande porte, que realizam processos de contratação com grande número de pessoas, e algumas vezes em mais de uma localidade -, ajuda até a agilizar a análise dos pretendentes às vagas disponibilizadas, pois, uma vez que as entrevistas são gravadas, é possível criar um script de perguntas, e enviá-las para os candidatos, para que eles próprios façam a gravação, de onde estiverem, eliminando encontros presenciais, filas de espera, translocação etc. O próprio software inteligente se encarrega de fazer e entregar as avaliações das emoções.
Contudo, não pense que a IA irá substituir todos as etapas dos processos seletivos de RH. Apesar de ser uma ferramenta extremamente eficaz para que os gestores encontrem mais rápido os candidatos que tenham o perfil desejado para aquela vaga, a inteligência artificial ainda é capaz de somente realizar algumas atividades do processo de contratação, da automatização de procedimentos básicos, como organização e armazenamento de dados dos candidatos, classificação e indicação automática dos melhores profissionais, envio de respostas automáticas aos candidatos através de bots, até a avaliação das emoções e comportamentos das entrevistas gravadas. Porém, a avaliação humana, proveniente da interação entre um profissional qualificado e o candidato, ainda está longe de ser substituída.
Mas mesmo que ainda esteja em desenvolvimento, soluções de recrutamento e seleção dotadas de IA são um caminho sem volta para aumentar a eficiência das áreas de RH, que se tornaram estratégicas para as empresas estruturarem ambientes de trabalho mais produtivos e com equipes mais engajadas.
(*) É COO do Compleo