Acompanhando o crescimento do investimento no mercado de saúde, a odontologia testemunha uma revolução na oferta de valor à sociedade. Em um mercado que movimenta mais de US$ 28 bilhões todos os anos, o Brasil é referência no setor, conhecido internacionalmente pelos tratamentos em saúde bucal e estética. Sob grande influência da incorporação de tecnologias avançadas no setor, a população tem buscado, cada vez mais, se empoderar da sua saúde, com um olhar focado na prevenção, manutenção do cuidado e bem-estar. Tratamentos reativos na odontologia, além de dolorosos, podem implicar em custos elevados para o paciente ou governo, no caso de serviços públicos. Por isso, a conscientização sobre melhores hábitos e maior assertividade nos diagnósticos e serviços preventivos tem ganhado espaço no mercado.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que para cada R$ 1,00 gasto com prevenção, outros R$ 4,00 são economizados com tratamento. Não apenas na área médica, mas em todo o setor da saúde, a prevenção é mais barata e eficaz que o foco no tratamento.
Dentre as tendências tecnológicas que apresentam maior potencial de atender a essas demandas do novo mercado, uma das mais capazes de amparar os dentistas nessa transformação é a inteligência artificial (IA). Essa fusão entre a IA e odontologia está redefinindo os padrões de atendimento, além de oferecer novas perspectivas tanto para pacientes como para profissionais do setor. Gigantes do setor já são referências, como a Invisalign, que utiliza da IA para escanear os dentes do paciente, e planejar o plano de tratamento ortodôntico.
Uma das áreas mais impactadas pela IA é a de diagnósticos. Seja para a identificação mais precisa de doenças bucais ou o reconhecimento precoce de complicações futuras relacionadas a próteses e implantes, sistemas de IA são capazes de analisar imagens radiográficas e detectar anomalias com uma precisão que supera a de qualquer especialista humano, devido às limitações do seu instrumento de análise: os olhos. As startups têm desenvolvido um papel crucial nessa transformação do mercado odontológico, oferecendo soluções inovadoras que ajudam o dentista a melhorar sua entrega de valor e se manter competitivo. A startup DIO Inteligência Odontológica desenvolveu o analis-Ai, um software 100% brasileiro capaz de avaliar casos através de visual computacional e sugerir tratamentos apropriados para cada paciente.
Também ganham espaço soluções como aplicativos e softwares com IA embarcada, que otimizam o planejamento de cirurgias dentárias complexas ou otimizam a eficiência operacional através da gestão inteligente de clínicas e consultórios. A QiDent, startup catarinense, desenvolveu uma solução que auxilia o dentista na precificação de procedimentos odontológicos, com funcionalidades adicionais que facilitam agendamentos e demais processos de gestão de clínicas. Internacionalmente, a Pearl oferece diferentes soluções com IA, entre elas a Second Opinion, uma plataforma de IA dentária que detecta automaticamente, em tempo real, numerosas condições críticas nos raios-X dentários, oferecendo insights valiosos aos dentistas através de sua plataforma de análise de dados e IA, tornando a tomada de decisões mais assertiva e personalizada.
O grande desafio do setor é cultural. A odontologia no Brasil ainda é muito tradicionalista, assim como outras áreas da saúde, com pouco hábito de embarcar tecnologia em seus processos, produtos e serviços. O mercado está se diversificando, e se adaptando, de modo a incorporar as tecnologias, de forma rápida. As Universidades têm um papel muito importante na adaptação do mercado, preparando os novos profissionais a utilizarem as novas tecnologias.
Além das soluções que já estão no mercado, o futuro da IA na odontologia é promissor. Espera-se que novas tecnologias, como a análise de voz e o reconhecimento facial, sejam incorporadas para melhorar a experiência do paciente e a precisão dos diagnósticos. Além disso, a IA pode desempenhar um papel fundamental na pesquisa odontológica, acelerando a descoberta de novos tratamentos e terapias.
(Fonte: Rafael Kenji Hamada é CEO da HealthAngels Venture Builder, um fundo de investimento no formato de venture builder que investe em startups de odontologia e saúde pública. Eduardo Rodrigues é especialista em investimentos. E-mail [email protected])