As guerras são tragédias, mas às vezes acontecem nelas episódios curiosos – um desses é narrado aqui.
Vivaldo José Breternitz (*)
O T-72 é um tanque russo que começou a ser fabricado em 1969; sua versão mais moderna é o T-72B3M, lançado em 2021, dispõe de tecnologia muito avançada, e vem sendo utilizado pelos russos na guerra contra a Ucrânia.
A revista Popular Mechanics, recentemente trouxe um vídeo postado na internet que mostrava um executivo da Uralvagonzavod, a fabricante do tanque, tentando responder a dúvidas trazidas por telefone pelo comandante de uma unidade blindada que estava na Ucrânia.
O militar, de forma extremamente irritada dizia que a viatura necessitava de constantes reparos, que o sistema de rotação da torreta frequentemente precisava ser acionado manualmente, como nos tanques da 2ª Guerra, que o motor apresentava constantes vazamentos de óleo, enfim, que era simplesmente impossível lutar usando uma máquina como aquela, e que os tanques da era soviética eram melhores.
O comandante, que se identificou pelo seu “callsign”, Kochevnik (Nômade), falou inicialmente com o executivo Oleksandr Anatoliyovych, que prometeu consultar outras áreas da empresa e responder em alguns dias. “Mas você é o responsável”, disse o militar, “o tanque foi projetado e desenvolvido em sua área”, tendo Anatoliyovych respondido que os problemas eram de produção e sugeriu que Kochevnik ligasse para o diretor dessa área, Andre Abakumov, que após ouvir as queixas de Kochevnik, pediu que este elaborasse uma lista de problemas e a enviasse por WhatsApp – uma atitude de burocrata!
O militar disse que já havia tentado outros canais de comunicação, sem sucesso e terminou a conversa dizendo que a unidade que comandava era um batalhão de pertencente à 54ª Brigada – do exército ucraniano!!!
Kochevnik pediu aos russos que resolvessem os problemas dos tanques, de forma a que eles, ucranianos, pudessem usá-los com mais facilidade quando os capturassem e desejou-lhes boa sorte, terminando com um “Glória à Ucrânia”. Os russos riram…
Evidentemente a brincadeira só foi possível pelo fato de cerca de 1/3 dos ucranianos falarem russo fluentemente e mostra a confusão que parece reinar entre os russos.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.
