Extremamente preocupado com a chegada ao mercado de ferramentas como o ChatGPT e o Bing, que podem acabar expulsando-o do mercado mecanismos de busca, o Google vem trabalhando muito rapidamente no desenvolvimento do Bard, com o qual pretende enfrentar as ferramentas recém chegadas.
Vivaldo José Breternitz (*)
O Bard começou mal, talvez em função da forma apressada com que vem sendo desenvolvido: seu lançamento foi pífio, de acordo com o próprio CEO do Google, Sundar Pichai.
Agora, informações trazidas a público pela agência Bloomberg, dizem que as coisas vão andando realmente mal: funcionários do Google que testaram o sistema teriam criticado fortemente o Bard em mensagens trocadas com colegas, classificando-o como” inútil”, “patético” e “mentiroso patológico” e pedindo à empresa que não o lance.
A Bloomberg também disponibilizou capturas de tela de mensagens onde funcionários do Google discutiam o assunto; um deles chegou a dizer que o Bard frequentemente dava orientações perigosas aos usuários, “ensinando” como pousar um avião ou a mergulhar com tanques de oxigênio – duas atividades que evidentemente exigem treinamento prévio para que possam ser executadas com segurança.
A agência disse também a empresa não levou em conta uma análise de risco envolvendo o produto feita por uma equipe interna, rejeitando-a afirmando que o sistema não estava pronto, embora tenha sido aberto ao público para testes.
Nessa mesma linha, o Google acaba de liberar funcionalidades do Bard voltadas à geração de código, mas Paige Bailey, executivo da empresa, avisa que os usuários devem revisar e testar o que foi produzido cuidadosamente, buscando erros e vulnerabilidades, antes de efetivamente utilizar o código gerado.
O relatório da Bloomberg ilustra como o Google aparentemente deixou de lado as preocupações éticas em um esforço para acompanhar rivais como Microsoft e OpenAI que lançaram as ferramentas que preocupam o Google. A empresa frequentemente divulgava seu trabalho voltado à segurança e à ética em inteligência artificial, mas agora, com a concorrência ameaçando seu modelo de negócios de mecanismos de busca, o Google parece focado apenas nos negócios.
Como diz a Bloomberg, parafraseando depoimentos de atuais e ex-funcionários, “o confiável gigante da pesquisa na Internet está fornecendo informações de baixa qualidade em uma corrida para acompanhar a concorrência, ao mesmo tempo em que dá menos prioridade a seus compromissos com a ética”.
O portal The Verge confirma a opinião dos funcionários do Google, dizendo que os testes que fez, comparando o Bard com o Bing e com o ChatGPT, concluíram que o sistema do Google é menos útil e preciso que os dos seus rivais, que também precisam ser muito melhorados.
Talvez o Google deva levar em conta o provérbio americano “better safe than sorry”, que significa algo como “é melhor prevenir do que remediar”.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas