Um recente pedido de patente da Ford mostra uma nova maneira, bizarra, de retomar carros financiados se os proprietários não fizerem os pagamentos em dia.
Vivaldo José Breternitz (*)
A Ford entrou com o pedido de patente em agosto de 2021, mas a mesma ainda não foi concedida. A ideia é que os carros sejam dotados de uma funcionalidade que tranque o carro, impedindo o acesso do proprietário ao mesmo, segundo ela, visando enfrentar os casos de proprietários “não cooperativos” que tentarem “impedir a operação de reintegração de posse doi veículo”.
No pedido de patente, a Ford descreve um “sistema de reintegração de posse computadorizado”, que avisaria o proprietário acerca de atrasos de pagamentos e, em um segundo momento, persistindo os atrasos, desabilitaria determinadas funcionalidades do veículo, tais como computador de bordo, GPS, ar condicionado e rádio. O sistema também pode fazer com que o carro comece a emitir um “som incessante e desagradável, acionando um beep ou o rádio do carro”, sempre que o motorista estiver presente.
Se os atrasos persistirem, o carro pode trancar-se, com algumas ressalvas, como por exemplo, bloqueando seu uso nos finais de semana.
Alternativamente, o sistema pode definir uma área ao redor da residência do motorista, que só poderá usar o carro nessa área. Além disso, poderia haver bloqueios limitados a determinados dias ou horários do dia.
No caso de veículos autônomos, as medidas poderiam ser ainda mais radicais, com o carro tomando a iniciativa de se locomover até um local onde se encontra um guincho, ou pátio para veículos apreendidos.
O pedido de patente ainda especifica que, antes de ir a um desses locais, o sistema pode se comunicar com o computador da instituição credora para descobrir o valor de mercado do carro, e caso não valha a pena a recuperação, o veículo poderia ir diretamente para um ferro-velho.
Indagada acerca do assunto, a Ford disse que pedidos de patente fazem parte de um processo que procura manter viva sua cultura de inovação e que em 2022 a empresa obteve mais de 1.300 patentes, mas nem todas serão incorporadas aos seus produtos e processos.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.