A espionagem industrial é um problema sério, especialmente em ambientes de alta tecnologia, como os sistemas embarcados.
Vivaldo José Breternitz (*)
A vítima agora foi a ASML, uma empresa multinacional holandesa, a maior fornecedora de sistemas de litografia para a indústria de semicondutores, que fabrica máquinas para a produção de circuitos integrados, tais como memórias RAM, flash e outros.
O caso foi noticiado pelo jornal NRC, que contou que um cidadão chinês se empregou na ASML, onde teve acesso a segredos industriais detidos pela mesma; em 2022, transferiu-se para a Huawei, à qual revelou esses segredos. O jornal sugere que a pessoa se empregara na empresa holandesa a mando da empresa chinesa, buscando conhecer aspectos da tecnologia detida pela mesma.
O CEO da ASML, Peter Wennink, minimizou o fato, dizendo que as informações roubadas, isoladamente tem pouca utilidade e que seu conhecimento só faz sentido em conjunto com outros segredos industriais.
Em fevereiro a agência de notícias Bloomberg já havia dito que um ex-funcionário da ASML havia roubado e levado para a China informações sobre tecnologia para fabricação de chips. No entanto, a Bloomberg não mencionou a Huawei como beneficiária do crime.
A Huawei vem lutando muito para sobreviver frente às sanções que o governo americano vem aplicando a empresas chinesas da área de computação. Dentre outras ações, vem tentando atrair profissionais taiwaneses e russos para atuar em seus projetos.
Tudo isso parece ter ajudado a Huawei a permanecer viva e até mesmo a prosperar, como evidenciado pelo seu novo chip Kirin 9000s e pelo seu progresso no desenvolvimento e aquisição de equipamentos de fabricação de chips.
Do ponto de vista estratégico, é difícil saber se as sanções americanas são a melhor política para enfrentar a China: podem restringir o acesso desta a tecnologia de ponta que poderia ser utilizada para desenvolver ou ser integrada a sistemas de armas, mas por outro lado, o país pode ser estimulado a desenvolver (ou roubar) tecnologia de terceiros, permitindo-lhe competir com o que os americanos e seus aliados tem de melhor.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.