Os dados pessoais que fornecemos a aplicativos e que a seguir são vendidos a terceiros, podem ser usados como arma contra nós mesmos, e não apenas por aqueles que querem obter vantagens financeiras.
Vivaldo José Breternitz (*)
Esse é um cenário que há bastante tempo se imaginava possível e que agora, segundo o jornal Washington Post, se tornou realidade: um portal de notícias informou que um importante religioso americano frequentava bares gays; a divulgação da notícia levou-o a deixar suas funções
Informações sobre a presença do religioso nesses locais foram obtidas pela análise dos dados de geolocalização de seu celular. Esse tipo de informação, geralmente coletada por redes sociais é anônima, mas frequentemente é vendida junto com a ID do aparelho, a idade, o sexo e o gênero do usuário a agências de marketing e outros compradores.
Bennett Cyphers, dirigente da Electronic Frontier Foundation, organização que se dedica à defesa dos direitos ameaçados pela proliferação das tecnologias digitais, afirmou ser essa a primeira vez que uma entidade jornalística rastreia uma determinada pessoa e usa as informações coletadas como arma contra essa pessoa.
Em teoria, os dados mais sensíveis, como o nome da pessoa, são eliminados pelas empresas que coletam dados, mas já em 2013 uma pesquisa mostrou que basta cruzar quatro dados transmitidos, como por exemplo, idade, sexo, CEP da residência, para identificar 95% dos usuários.
Sabemos que as pessoas não tem muitas ferramentas para se defender e que uma vez que os dados saem de seu dispositivo, não há como saber quem vai recebê-los e como serão usados. Nossa única e fraca defesa é tomar um cuidado imenso com o que postamos e informamos a sites de qualquer tipo.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
