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Complexidades desnecessárias

em Tecnologia
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Sempre me senti um pouco incomodado com coisas que são desnecessariamente complicadas ou sofisticadas.

Vivaldo José Breternitz (*)

Certa vez vi um liquidificador com oito velocidades; meu carro tem dois indicadores de velocidade, um analógico e outro digital – na minha visão, tudo isso é puro desperdício que impacta os compradores desses produtos ao elevar seus preços.

Recentemente, o jornalista Adrian Chiles publicou uma matéria no jornal britânico The Guardian, onde aborda, de maneira divertida, situações como essas.

Chiles começa falando de aparelhos de barbear, dizendo que a Gilette, que lançara o conceito de lâmina de barbear em 1900, em 1971 colocou no mercado o primeiro barbeador com lâmina dupla, em 1990 um com três lâminas até chegar em 2006 a um com cinco – um de seus concorrentes lançou o Dorco Pace 7, com sete lâminas.

Embora o número de lâminas de seus barbeadores tenha permanecido estável, a Gilette anunciou um aparelho aquecido, que segundo ela, “fornece calor instantâneo em menos de um segundo com o apertar de um botão e proporciona um barbear visivelmente mais confortável”. Será que isso é necessário?

Chilles segue criticando a inovação sem nenhum propósito real além de elevar os preços, falando de equipamentos de cozinha, como um freezer que custa cerca de dezessete mil reais e tem uma tela sensível ao toque na qual se pode ver quem está tocando a campainha da casa, reproduzir músicas e vídeos e planejar refeições. No interior dele, há uma câmera que permite usar um smartphone para ver o que há dentro do freezer, alertar sobre datas de validade e até adicionar produtos a uma lista de compras online. Chilles pergunta: porque tudo isso?

Chilles fala também de um sistema de iluminação que comprou para seu apartamento, afirmando ter descoberto que tem mais dinheiro do que bom senso. Segundo ele, o tal sistema deveria fornecer combinações de luzes que se acenderiam em intensidades e cores diferentes, conforme se aciona um painel tão complexo que poderia estar na nave Enterprise, da série Star Trek – e o pior é que o tal sistema nunca funcionou direito.

Concluindo, o jornalista pergunta o que de bom poderia ser feito com o brilho criativo de todos os envolvidos nessas inovações – os técnicos, os financiadores e outros. Diz que talvez pudéssemos alcançar eficiência e desenvolver coisas de que realmente precisamos, individualmente e como sociedade, ao invés de coisas com as quais gastamos nosso dinheiro inutilmente, apenas por termos sido persuadidos de que precisamos delas.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas