Diogo Catão (*)
Segundo relatório recente, da ONU-Habitat, a população mundial será quase 70% urbana até 2050. Portanto, pensar em tecnologias para melhorar a acessibilidade nas cidades brasileiras é um dever da administração pública. As empresas privadas podem auxiliar neste processo ao criar ferramentas que ofereçam mais segurança e autonomia no deslocamento das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Existem diversos desafios para pessoas com dificuldade de acessibilidade, como barreiras físicas/arquitetônicas, atitudinais e comunicacionais. É possível criar rotas acessíveis customizadas, em que o usuário poderá identificar qual a rota mais acessível ao se deslocar de um ponto A ao ponto B, levando em conta o tipo de deficiência, o recurso assistivo e o modo de deslocamento.
Ao fazer uso de uma tecnologia de rotas acessíveis customizadas, o gestor público, que é o responsável direto pelas melhorias no espaço urbano, tem acesso a vários recursos para auxiliá-lo. Por meio de um Dashboard customizável, por exemplo, com dados quantitativos e qualitativos das condições de acessibilidades dos equipamentos urbanos mapeados e classificados (ponto de ônibus, faixa de pedestre, semáforos, passarelas, ascensores/elevadores), ele poderá tomar decisões na implantação de políticas públicas, visando sempre a economicidade.
Quando pensamos nas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, estamos também pensando em toda a população dos espaços urbanos, porque se geramos um benefício através da requalificação da infraestrutura com uso de tecnologia, desde a criança até o idoso poderá ser beneficiado no final com a melhoria dos equipamentos nesses espaços. Além disso, gestantes, obesos, idosos, pais com carrinhos de bebês, que não estão necessariamente nesse espectro, serão também beneficiados diretamente pelas melhorias.
Todas essas ações para melhorar acessibilidade são para garantir um direito básico do cidadão, presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, o direito de ir e vir. Vale ressaltar que no caso das pessoas com deficiência ou algum tipo de problema de mobilidade, usar a tecnologia para melhorar a vida é trazê-las ao protagonismo, já que muitas são invisibilizadas pela sociedade. Para as empresas privadas, investir nesse tipo de tecnologia além de ser uma maneira de se engajar com uma causa nobre representa a possibilidade de expandir os negócios e trabalhar com um importante nicho de mercado.
A questão da acessibilidade é mundial, mas é inegável que no Brasil o problema é acentuado, pois os espaços urbanos cresceram desordenadamente sem que houvesse qualquer preocupação em tornar as cidades mais acessíveis. Tudo começa com a falta de profissionais dedicados ao tema de ordenamento urbano. Para se ter uma ideia, em alguns cursos de engenharia, a questão da acessibilidade é abordada de forma transversal. Sendo que seria necessária uma disciplina obrigatória no currículo de todos os cursos de engenharia, arquitetura, urbanismo e transporte. É preciso repensar a acessibilidade desde a formação dos profissionais que lidam com infraestrutura urbana para que as cidades se tornem espaços verdadeiramente acessíveis a todos.
(*) CEO da Dome Ventures e Macello Medeiros, cofundador da Inpatics.