A China trabalhando para desenvolver suas próprias constelações de satélites que suportarão serviços de internet, similares à Starlink da SpaceX, que é proibida naquele país.
Vivaldo José Breternitz (*)
Dois projetos estão em andamento, tendo o primeiro lote de 18 satélites sido lançado no início de agosto. Esses satélites comporão a constelação Qianfan, desenvolvida pela Shanghai Spacecom Satellite Technology (SSST), que, apoiada pelo governo de Xangai, pretende lançar inicialmente 1.296 satélites, número que pode chegar a 14 mil.
A constelação da SSST visa fornecer aos usuários serviços de alta velocidade, baixa latência e ultra confiáveis. Os satélites Qianfan tem um design semelhante ao dos satélites Starlink, projetados para facilitar o lançamento de vários deles ao mesmo tempo.
A fábrica da SSST pode fabricar até 300 satélites por ano, havendo a previsão de que os primeiros 108 sejam lançados neste ano. A empresa levantou mais de US$ 900 milhões junto a vários fundos de investimento estatais chineses e de fontes de capital de risco.
As origens da SSST estão ligadas a uma joint venture com a empresa alemã KLEO Connect, que visava desenvolver uma constelação menor para serviços de retransmissão de dados. No entanto, a joint venture se dissolveu em meio a disputas legais, levando a SSST a continuar de forma independente com a constelação Qianfan.
A Qianfan concorrerá com outra constelação chinesa, a Guowang, apoiada pelo governo central da China e que deverá ser composta por 13 mil satélites. Não está claro se essas redes irão competir entre si ou se serão destinadas a atender diferentes segmentos de mercado.
O governo chinês sabe das vantagens, do ponto de vista militar, de operar constelações como essas, como tem sido demonstrado pelo uso da Starlink por forças ucranianas.
Além disso, a economia chinesa se beneficiaria desses serviços, que também poderiam servir a propósitos geopolíticos, reforçando parcerias com países em desenvolvimento que dependem de infraestrutura que vem sendo construída pela China, nos termos da “Belt and Road Initiative” – a nova Rota da Seda.
A implantação dessas mega constelações exigirá um aumento significativo na capacidade de lançamento da China, devendo impulsionar o desenvolvimento de novos foguetes, incluindo os reutilizáveis, de forma a reduzir custos e aumentar o ritmo de lançamentos.
O triste é que nosso país nada vem fazendo de parecido, nem mesmo em uma escala infinitamente menor – continuamos nos contentado com carnaval e futebol…
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].