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Carros usados: um problema que está sendo exportado

em Tecnologia
quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A União Europeia costuma ser apresentada como um exemplo na luta contra a poluição do ar causada por veículos automotores. Ali, regras rígidas vem sendo implantadas e há incentivos, inclusive financeiros, para a aquisição de veículos elétricos.

Vivaldo José Breternitz (*)

São posturas louváveis, mas há um aspecto da questão que a mídia usualmente não trata e que os envolvidos também não se preocupam em divulgar: o  Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) gerou um relatório que aponta a UE como o maior exportador de veículos usados, discute os problemas causados por esse tipo de negócio e propõe a fixação de regras mais estritas acerca do assunto.

Entre 2015 e 2018, a UE exportou 7,6 milhões de carros usados. Japão e Estados Unidos também são ativos nesse tipo de comércio, que totalizou no período 14 milhões de veículos, destinados principalmente a países da África, Europa oriental, Ásia e Oriente Médio. Cerca de 1,5 milhões desses carros vieram para a América Latina, especialmente para o México e Chile, que ao que parece revende alguns para Bolívia e Paraguai.

O PNUMA adverte que a falta de regras tem feito aumentar os negócios com veículos obsoletos, poluentes e inseguros, que quase sempre não poderiam circular em seus países de origem.

Parte dos carros que deixa a UE por via marítima, sai pelos portos holandeses de Amsterdam e Roterdã; 35 mil veículos destinados a países africanos saíram desses portos em 2017 e 2018. Atento ao problema, o governo do país estudou o assunto, descobrindo que a maioria desses carros tem cerca de 20 anos de uso e que as condições de 80% deles não permitiriam que rodassem nas estradas holandesas.

Do lado dos compradores, os 15 países que compõem a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) definiram que a partir de 2021 somente poderão entrar na região veículos que atendam à norma Euro 4, que foi aprovada pela UE em 2005 e que nos próximos anos esses controles se tornarão mais rígidos, paulatinamente se aproximando dos padrões da UE.

Outros blocos e países também precisam adotar normas mais estritas; afinal, acredita-se que em 2050 o número de veículos leves dobre e que 90% desse incremento se dará em países importadores de carros usados, o que torna a necessidade de regras ainda mais urgente.

Veículos inseguros causam mais acidentes, que matam muita gente. Outras 7 milhões de pessoas morrem a cada ano em função da poluição do ar, e esta é causada, em boa parte, por veículos movidos a combustíveis fósseis, especialmente quando estes não atendem às normas que tratam do assunto.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.