Os processos de simulação estão entre os que mais podem ser melhorados com a aplicação de inteligência artificial (IA).
Vivaldo José Breternitz (*)
Esses processos permitem indicar o caminho a seguir em muitos campos, por exemplo simulando o que poderia acontecer em uma corrida de F1 se fatores como condições da pista, ajustes dos carros e outros fossem mudados, dando às equipes condições de otimizar seu desempenho em busca de vitórias.
Um bom exemplo foi a utilização de IA pela equipe da Red Bull em preparação para o recente GP de Las Vegas. A Red Bull simulou esse GP oito bilhões de vezes, metade delas com os dados coletados em corridas passadas e a outra metade fornecendo à IA os dados coletados durante as duas sessões de treinos livres. Vale lembrar que um dos patrocinadores da equipe é a Oracle, uma empresa gigante voltada a sistemas de gestão empresarial, bancos de dados e computação em nuvem.
Max Verstappen, o piloto da Red Bull, mesmo antes do GP de Las Vegas, estava tão próximo do título mundial que não precisava temer os adversários e a rigor, simulações não eram necessárias.
Mas, mesmo assim, simulações são fundamentais para a sobrevivência das empresas que operam em todos os setores, inclusive na F1, pois como disse Jack Harington, executivo da Red Bull, “quanto mais simulações você faz, mais coisas consegue prever e mais chances tem de reagir de forma eficaz”. Em resumo: deve-se testar todos os cenários possíveis, além da probabilidade de que cada um ocorra e estar pronto para agir de acordo com o cenário que prevalecer.
O mundo das corridas é um dos domínios em que a IA é eficiente e faz o que o homem não pode fazer. A Red Bull simulou em algumas horas de processamento oito bilhões de GPs contemplando todos os casos possíveis: acidentes e entradas do safety car, diferentes condições meteorológicas, melhores cenários para cumprir uma penalidade de corrida, consumo de pneus e combustível de acordo com o estado da pista e estilo de direção do piloto etc.
Na realidade, as simulações são contínuas e ocorrem também durante a corrida, coletando e analisando os dados em tempo real para apoiar cada decisão crítica, por exemplo, em relação ao melhor momento para fazer pit stops, quais pneus montar, estado do motor e das partes do carro. Cada carro de F1 possui cerca de 300 sensores que coletam e transmitem dados em tempo real à IA, que gera informações transmitidas à equipe.
Mesmo com os motores desligados, o circo da Fórmula 1 se baseia em simulações, criando ambientes virtuais nos quais se pode simular e estudar geometria e aerodinâmica dos carros sem depender de testes em pista ou túnel de vento, métodos que exigem tempo e são caros, pois para aplica-los é necessária a construção de, ao menos, maquetes de carros inteiros ou partes.
Assim, a aplicação de IA tem se tornado cada vez mais importante na F1, quer em situações de corrida, quer no desenvolvimento dos carros.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].