Rogério Gomes (*)
O financiamento automotivo é uma prática essencial para movimentar a economia, representando uma parcela significativa do crédito concedido ao consumidor final no Brasil e no mundo.
Entretanto, esse setor enfrenta alguns desafios, como oscilações econômicas, inadimplência e riscos associados à variação no valor dos veículos ao longo do tempo. Nesse sentido, a gestão de riscos emerge como um elemento crucial para garantir a sustentabilidade das operações e a saúde financeira das instituições e das montadoras que oferecem crédito.
Portanto, a aplicação de estratégias robustas e baseadas em dados é fundamental para identificar, avaliar e mitigar os riscos envolvidos na concessão de crédito para a compra de veículos, otimizando resultados e minimizando prejuízos. Identificar os riscos é o ponto de partida em qualquer estratégia eficiente de gestão.
No financiamento automotivo, os principais fatores de risco incluem o perfil do consumidor, a volatilidade do mercado, o envelhecimento acelerado de veículos, os custos associados a bens usados e, em menor escala, eventos macroeconômicos, como altas nas taxas de juros e inflação.
Para mitigá-los, as empresas financeiras utilizam uma combinação de tecnologias avançadas e processos tradicionais de avaliação.
Ferramentas como inteligência artificial e machine learning são cada vez mais aplicadas para traçar perfis de crédito baseados em dados históricos, comportamento do consumidor e tendências de mercado. Essas tecnologias ajudam a identificar com maior precisão quais consumidores apresentam maior probabilidade de inadimplência.
A avaliação dos riscos no financiamento automotivo é um outro ponto que exige uma abordagem holística que considera múltiplos fatores. Entre eles estão o histórico financeiro do cliente, sua capacidade de pagamento, o valor e a depreciação esperada do veículo, bem como as condições gerais do mercado.
A análise criteriosa do cliente vai além de consultar bases de dados como Serasa e SPC, incluindo análises comportamentais e de renda. Instituições mais inovadoras investem em scoring alternativo, utilizando dados como hábitos de consumo digital e interações nas redes sociais para complementar o perfil tradicional.
Uma vez identificado e avaliado o risco, a etapa de mitigação envolve o desenvolvimento de soluções personalizadas e políticas preventivas que equilibrem o acesso ao crédito e a proteção da instituição. Entre as práticas mais comuns está o uso de garantias adicionais, como seguros obrigatórios atrelados ao financiamento, que reduzem o impacto de inadimplência e sinistros.
Os seguros gap, por exemplo, protegem a instituição contra a desvalorização do veículo em casos de perda total, cobrindo a diferença entre o valor financiado e o valor de mercado do bem no momento do sinistro. Também é importante manter políticas flexíveis de renegociação, oferecendo alternativas para consumidores em dificuldades financeiras antes que entrem em default.
Outra abordagem essencial na mitigação de riscos é o monitoramento constante do portfólio de crédito. Dados do Banco Central indicam que a taxa de inadimplência do crédito não consignado em 2024 gira em torno de 4,2%. No caso do financiamento automotivo, os índices são ligeiramente menores, mas ainda assim representam um desafio para as instituições financeiras.
A análise preditiva é uma ferramenta útil nesse cenário, pois permite identificar tendências de inadimplência e tomar medidas preventivas. Por exemplo, quando um consumidor apresenta sinais de dificuldade financeira, como atrasos em outros pagamentos, a instituição pode entrar em contato preventivamente para renegociar condições e evitar perdas.
As estratégias de diversificação do portfólio ajudam a diluir os riscos associados à concentração de crédito em determinados perfis de cliente ou tipos de veículos. Oferecer linhas de financiamento para veículos seminovos, elétricos ou com alta liquidez no mercado secundário é uma maneira de equilibrar o portfólio.
A crescente popularidade dos veículos elétricos, por exemplo, apresenta uma oportunidade e um desafio, pois o segmento ainda é novo e carece de históricos confiáveis de avaliação de risco. Contudo, a maior previsibilidade de custos de manutenção e o incentivo governamental para o segmento podem compensar parte desses desafios, tornando-o uma aposta segura no médio prazo.
Por fim, a educação financeira do consumidor é uma alavanca fundamental na gestão de riscos do setor. Investindo em campanhas educativas, as instituições podem reduzir os índices de inadimplência e construir relações mais sólidas com seus clientes.
Um consumidor bem informado tende a fazer escolhas financeiras mais conscientes, beneficiando não apenas sua situação financeira pessoal, mas também contribuindo para a sustentabilidade do sistema como um todo.
(*) – É superintendente da AutoBanking, plataforma inovadora de crédito como serviço (https://autobanking.com.br/).