Gustavo Loiola (*)
Os líderes do G20 se reuniram em um momento crítico para o planeta, marcado por múltiplas crises políticas, sociais, ambientais e econômicas. Embora o encontro tenha um tom diplomático, o que está em jogo é transformar palavras em ações concretas.
Entre os pontos de destaque está a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, uma coalizão que reúne 82 países e, ao meu ver, é uma grande vitória para o Brasil, visto que era uma pauta prioritária do governo. Essa iniciativa é um chamado à ação para enfrentar a insegurança alimentar crescente e reverter as desigualdades que marcam nosso tempo e estão divididas em três pilares: nacional, financeiro e de conhecimento.
Ainda mais ousada foi a proposta de cooperação internacional para taxar superricos, que visa financiar programas sociais em escala global. Essa abordagem, que já temos ouvido por algum tempo, reflete a urgência de se enfrentar as desigualdades econômicas exacerbadas pela pandemia e pela crise climática.
Na pauta ambiental, o G20 reafirmou seus compromissos para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, com promessas de ampliar o financiamento climático e triplicar a capacidade de energias renováveis até 2030. Uma meta ambiciosa, mas essencial, especialmente para países em desenvolvimento que enfrentam maior vulnerabilidade aos impactos climáticos.
Além disso, os líderes concordaram em negociar uma nova meta financeira climática na COP29, o que pode impulsionar ações concretas nos países mais necessitados. Esse esforço, entretanto, só terá impacto real se a cooperação internacional for acompanhada de responsabilidade compartilhada e transferência de tecnologias.
Outro ponto crucial foi o apelo por uma reforma nas instituições centrais da governança global, como o Conselho de Segurança da ONU – também um tema forte puxado pelo governo brasileiro. Tornar o conselho mais representativo e eficiente é vital para enfrentar os desafios do século XXI, desde a manutenção da paz até a gestão de crises globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar.
A reforma dos bancos multilaterais de desenvolvimento também foi uma pauta prioritária. A necessidade de ampliar o acesso ao financiamento para projetos sustentáveis, especialmente em países em desenvolvimento, foi reconhecida como indispensável. Essa reforma tem o potencial de reconfigurar a arquitetura financeira internacional para apoiar ações transformadoras.
Sob a presidência brasileira, o G20 adotou uma abordagem inovadora. A inclusão da sociedade civil, por meio da Cúpula Social do G20, foi um exemplo de como governos e atores não estatais podem colaborar na construção de soluções globais. Além disso, o foco em questões como fome, pobreza e clima coloca o Brasil em uma posição de liderança moral e estratégica no cenário internacional.
Embora a declaração final do G20 traga um discurso promissor, as críticas persistem. Há quem questione a capacidade dos líderes globais de traduzir compromissos em ações concretas. De fato, o histórico de declarações anteriores sugere que o verdadeiro teste ainda está por vir.
O mundo está em um ponto de inflexão. Temos as ferramentas, os recursos e o conhecimento necessários para resolver muitos dos problemas que enfrentamos, mas falta, muitas vezes, a vontade política e o senso de urgência para agir. A pergunta que fica é: como cada um de nós, em nossas esferas de atuação, pode contribuir para que essas promessas globais se tornem realidade?
(*) – É professor e consultor em ESG, além de Gerente de Projetos Educacionais no PRME/ONU (https://www.unprme.org/).