Claudio Zanutim (*)
Você acha que seria possível esconder um abajur aceso embaixo da cama? Sua luz passaria despercebida?
Levando em consideração o motivo pelo qual fora criado, o lugar ideal para o abajur estar é debaixo da cama, escondido, comedido e modesto?
Essa foi uma questão apresentada há mais de dois mil anos por meio de uma das parábolas mais conhecidas de Cristo no Evangelho de Lucas, capítulo 8 e versículos de 16 a 18. Na ocasião, Ele queria demonstrar aos seus seguidores o quanto a timidez, o receio de se expor e o medo da retaliação levavam as pessoas a esconderem a própria luz, à missão de suas existências e suas respectivas competências, talentos e dons.
No mercado de trabalho atual e competitivo, além de qualificação profissional, especializações e experiência, sem dúvida alguma um pouco de extroversão pode determinar o seu futuro. Mas precisamos voltar os nossos olhos para a diversidade – os perfis introvertidos que, se desenvolvidos da forma correta se destacarão e elevarão à organização.
Em plena pandemia, devido ao COVID-19, uma fase em que somos ainda mais exigidos a “vender o nosso profissionalismo” à distância, além de precisar mostrar nossas qualidades, conhecimentos e competências para se manter ativo no mercado, ser tímido dificulta essa disputa.
Esse pressuposto tem por base o fato de que as pessoas tímidas (que se escondem embaixo de seus medos, vergonhas ou receios) necessitam de mais tempo para se destacar em comparação aos demais. Para complicar, o tímido ainda pode ter como líder uma pessoa que não tem a menor paciência ou jeito com o novo formato de trabalho 4.0, favorecendo para que ele seja inserido, percebido e notado. Mas isso não significa que o tímido é menos qualificado que o extrovertido. Pelo contrário.
Segundo Susan Cain, na obra “O Poder dos Quietos” disse: “em um mundo tagarela, cheio de pessoas querendo se promover por meio de suas ideologias, falas eloquentes ou por meio do tal brainstorming (que sempre tende a concordar com quem tem mais poder – os chefes) os tímidos podem mudar uma realidade que não para de falar e pouco produz”.
Uma vez adaptado ao novo ambiente de trabalho, o introvertido pode se tornar um profissional ainda melhor e mais centrado em seus objetivos, já que o isolamento (por mais que em alguns casos seja prejudicial) é quase que seu habitat natural.
Vale lembrar que a timidez não significa introspeção. Muitas pessoas tímidas são capazes de subir em palcos, realizar ótimas palestras e discursos em público, mas dotado de uma personalidade introvertida, como o caso de Steve Jobs (um tímido nato) e o seu discurso de Stanford, em que falou para milhares de pessoas.
De maneira geral, pessoas tímidas quando adentram em um novo ambiente, tem a tendência a se comparar com as pessoas extrovertidas (e sempre há alguém extrovertido, popularmente irritante). Por isso, a maioria dos tímidos ficam temerosos em expressar sua opinião, pensam e repensam como devem se comportar ou falar, pois temem ser julgados, retaliados ou zombados.
A ideia de que para ter sucesso na vida e nos negócios, era preciso ser um profissional extrovertido, acabou desfavorecendo quase metade da população mundial introvertida. Os tímidos, simplesmente foram excluídos por milhares de pessoas espertas, eloquentes e famosas, taxando-os como “não compatível” para cargos ou posições profissionais baseada em critérios estabelecidos por um universo hollywoodiano. Essa ideia só foi abalada em 2012, quando surgiu o conceito sobre “O Poder dos Quietos.
Pesquisas recentes analisaram alunos que tendiam a “não dar em nada” na vida, segundo os estereótipos de uma sociedade extrovertida, mas que acabaram se superando e sendo mais vitoriosos do que aqueles alunos populares e extrovertidos. Aliás, alunos considerados como os mais introspectivos da história foram também, posteriormente, tidos como os mais importantes. Sendo eles: Thomas Edison, Bill Gates, Albert Einstein, Steve Jobs.
Estes ícones eram completos introvertidos, taxados como inadequados pelos seus professores e nunca populares na fase educacional. Com isso, eles demoravam mais para interagir, fechando-se em seu mundo particular, sobrando-lhes tempo para pensar e criar melhorias ao mundo, por exemplo, as lâmpadas, fonógrafos, cinema, telégrafos, telefones, mineração, cimento, baterias automotivas e energia elétrica, o Microsoft, os computadores pessoais, o iPod, iPhone, Apple, e a Física Moderna.
Precisamos “validar o diferente”, aceitar nossos perfis introspectivos, e compreender pessoas tímidas na equipe, sem se esquecer de que no mesmo grupo, provavelmente existirão muitos quietos que se diferenciam do líder, da organização e até mesmo de toda a massa. E isso é bom!
E pasme! A adaptação do novo modelo de trabalho está sendo mais difícil para os profissionais extrovertidos do que para os tímidos, já que na “gana de aparecer” e tagarelar, agora são submetidos ao isolamento e/ou ao trabalho remoto, sem muito holofotes, restando-lhe apenas “produzir mais e falar menos”. A vista disso, entende-se que: Esta é a hora dos tímidos.
Timidez não é um distúrbio psicológico e sim uma resposta a situações que ocorrem ao longo da vida do indivíduo. Situações como tratamento severo e comparações por parte de pais e professores, pais perfeccionistas, tímidos ou super protetores, aparência física, mudanças (de escola, de emprego, de cidade, separação dos pais, etc), experiências negativas podem resultar em timidez. Mas, existem os tímidos por natureza, àqueles que são assim porque são.
Fomos educados a acreditar que a timidez atrapalha o processo de seleção de um candidato, o desempenho dele na equipe e até mesmo as vitórias que obterá na vida, mas “quando expandimos a nossa mente a um novo conhecimento, ela jamais retorna ao seu estado anterior”, certo? Desta forma, chega de se repudiar por ser introvertido, agora você já conhece a verdade.
Se você é líder e tem sob seu comando um grupo de pessoas distintas, oba! Escute-os, não os compare severamente, entenda-os, reflita em suas ideias, impulsione-os a falar e a expressar-se. Ajude os tímidos a mudar a mentalidade de se sentirem inferiores por serem mais quietos. Mostre a eles e para os demais que os tímidos têm poder!
Quando descobri, por intermédio de uma ferramenta de análise de perfis psicológicos incrível, o MBTI, que eu sou introversão e não extroversão, me pus a pensar muito sobre isto. Um deste pensamentos está neste mini artigo.
#Timidez pode ser reduzida
Ninguém que é naturalmente tímido conseguirá tornar-se extrovertido. Mas, a timidez pode ser interpretada e reduzida como forma não apenas de melhorar o seu convívio social, mas também para seu crescimento como profissional. Isso não significa que você deverá vencer a timidez a qualquer custo, contrariando até mesmo sua natureza. Mas que deve aprender a lidar com ela e extrair o melhor dessa característica que a sociedade enxerga como defeito.
Existem 4 estratégias para lidar com a introspecção “quando ela te incomoda.” Por meio de novos padrões de comportamento como:
1. Assuma sua timidez – Embora a autora e pesquisadora Susan Cain garanta que algumas das características dos introvertidos é preferir conversas individuais do que atividades em grupo, apreciar a solidão mais do que festas, não gostar de jogar conversa fora, mas abrir a boca apenas para falar coisas relevantes, gostar de celebrar aniversários ou datas comemorativas de maneira mais reservada… Quando convidado para algum compromisso social, não fuja da situação. Enfrente-a. Em qualquer tipo de reunião, seja profissional ou social, evite chegar atrasado só para evitar ter que se apresentar, sentar na frente ou simplesmente aparecer. Chegue antes e se deixe aparecer.
2. Aproveite qualquer situação – Já sabemos que tagarelar não é com você, e que você prefere falar só o necessário e relevante, mas se esforce quando tiver na fila do banco, supermercado, cinema, entre outros, para conversar com as pessoas. Só para treinar essa área.
3. Não seja seu próprio carrasco e não se culpe por sua timidez – Fernando Pessoa disse: eu que me aguente comigo e com os comigos de mim. Você já identificou que não deve se comparar com os outros perfis extrovertidos, que não gosta de correr risco como os demais, que as pessoas os definem como alguém de fala mansa, que não curte conflitos, que prefere pensar antes de falar terminar o trabalho antes de discuti-lo, e que se sente exaurido só de pensar em estar em público mesmo que seja para se divertir, então lide com seu jeito e assuma-o. Não se importa com as críticas – se aceite sem culpa.
4. Exercitar um novo padrão de comportamento em novos ambientes – Bom, neste estágio você já percebeu que é diferente e se aceita, mas nada impede de querer melhorar alguns pontos. Afinal não temos a síndrome da Gabriela “nasci assim e vou morrer assim”. Assim sendo, se permita experimentar o que chamo de “O dia do contrário”, em que você fará tudo ao contrário do que está habituado para ativar e desenvolver áreas do seu cérebro. Certamente você já deve ter lido algo sobre mudar o percurso do trabalho, ir por outro caminho, comer com a outra mão, mudar de supermercado, entre outras dicas da neurociência voltadas a desenvolver outras habilidades mentais, certo? O mesmo serve para o dia do contrário. Neste dia, você deverá puxar conversa com desconhecido, ir em um evento cheio de agito e pessoas, e quem sabe até mesmo “falar pelos cotovelos”. Parece inofensivo, mas esse exercício poderá ativar partes da sua mente e destravar áreas da timidez em que você se sente incomodado.
O que queremos com isso, mudar seu perfil? Não. Apenas aprimorar a maneira como você enxerga sua timidez, se aceita e comporta.
E lembre-se: “claro que há outro nome para os tímidos: pensadores”.
Não sou um grande tímido, mas carrego minhas energias na timidez que está em mim. Gosto muito de ficar sozinho e fazer algumas coisas sozinho.
(*) É Membro dos Empreendedores Compulsivos, Palestrante e Trainner Internacional. Mais 150 mil pessoas treinadas. Auxilia empresas e pessoas na maximização da performance em vendas e no atingimento de objetivos e metas. Autor de 7 livros, 3 e-books e dez artigos acadêmicos, é reconhecido nos meios empresarial, acadêmico e popular, principalmente com o Best Seller: Como Construir Objetivos e Metas Atingíveis.