Autor de Encantadores de Vidas, O Encantador da Montanha e Investir é Para Todos |
É curioso ouvir as pessoas usarem a palavra meritocracia como um termo quase sagrado, capaz de transformar empresas, consertar governos, ceifar injustiças e impulsionar o progresso. Mas o que será que a tal “meritocracia” tem de tão diferente em termos de paradigma de poder. Será que é a forma como o poder é exercido ou somente a forma como quem exerce o poder (da mesma maneira tirana) é escolhido para ocupar o cargo?
Os que lutam pelo poder sempre encontraram várias maneiras de alcança-lo e, principalmente, justifica-lo. Os antigos faraós egípcios escravizavam milhões, concentravam riquezas e ditavam as leis por serem reis com status de deuses. Os reis medievais traziam no sangue a principal razão para fazer coisas muito parecidas. Ditadores ao longo de toda a história usaram a força para alcançar o cargo que lhes permitiria, como o nome adianta, ditar as regras que deveriam imperar em uma sociedade.
Hoje, avaliamos todos estes regimes com repulsa, rejeitando com veemência a forma concentradora de poder e riqueza que representavam. Louva-se de um lado os regimes capitalistas democráticos, que pregam as liberdades individuais e a livre competição, e de outro os regimes socialistas que apontam para uma sociedade com menos assimetrias e imperfeições. E no meio disso tudo surge uma nova onda, mais relacionada ao capitalismo, mas de toda forma independente, que prega como o caminho para o poder o mérito, por isso batizada de meritocracia.
O fato é que continuamos, em todas estas frentes, concentrando poder e riqueza. Porque o paradigma do exercício do poder é pouco distinto, independente do regime. Socialistas, capitalistas, comunistas, ditadores e combinações destas alternativas, tomam o poder, criam seus feudos, concentram as decisões e as riquezas de seus países e passam a ter como meta a perpetuação no poder. E curiosamente o mesmo acontece com a meritocracia, na forma como usualmente empresas a empregam.
Empresas que se dizem meritocráticas alçam ao poder colaboradores que desempenharam muito bem. E estes colaboradores, quando no poder, na maioria das vezes o exercem exatamente como o exerciam seus antigos “chefes”, que lá haviam chegado por serem da família dos donos ou bons políticos. Constrangem funcionários, endurecem as regras, buscam a riqueza da empresa para si, e pouco agregam para um ambiente de trabalho agradável e para a qualidade de vida dos colaboradores. Chegam ao poder de uma forma diferente e, escondidos atrás de uma máscara que lhes rende a imagem de “mais merecedores” do poder, seguem simplesmente sendo mais do mesmo.
Talvez seja a natureza humana exercer o poder sempre da mesma forma. Talvez seja um exercício que nunca deixará de existir o de encontrar novas máscaras e truques para ocupar as cadeiras de onde saem as regras e leis que buscam a autopromoção e defesa. Mas talvez não. Talvez exista um novo paradigma de poder. Uma alternativa que combine o direito a mais possibilidades para os que mais se empenham mas garanta uma vida digna e feliz para os que apenas querem viver suas vidas. Talvez neste novo paradigma de poder haja menos poder e mais liderança. “Mas a liderança gera poder” diriam alguns. Então talvez seja a hora de redefinir também como exercer liderança…
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