O presidente está sem saída. A volta à presidência do Brasil é um feito reservado para poucos na história da República.
Heródoto Barbeiro (*)
Principalmente para um político que foi acusado e isolado do sul do país. Esse isolamento não impede que continue liderando seu partido e dar as cartas sobre o cenário político nacional.
Isso mostra que realmente é um líder que conta com o apoio da maioria da população. Ele nunca desistiu de voltar ao poder. Gosta do poder. Gosta de governar. Ele se atira na campanha eleitoral com grande vigor, viaja por grande parte do país e ocupa os palanques eleitorais preparados pelos seus aliados.
Tem experiência nos discursos e sabe dizer o que o povo quer ouvir. Tem treino para dar entrevistas contundentes com temas preparados com antecedência para ocupar o espaço na mídia e pôr nas cordas seus adversários. Enfim, é o maior líder político que já surgiu no Brasil desde a proclamação da República, gostem ou não os seus adversários. Às vezes na direita, às vezes na esquerda. Ele é hábil para não transformar adversários em inimigos. Nem amigos em desafetos.
O apoio popular é vital para o presidente manter o mandato. O Brasil tem uma história recente de golpes de estado rotulados de revolução. Os motivos são os mais diferentes e vão de ameaça ao sistema democrático à burla da Constituição Federal. Os golpes são justificados pelos seus líderes com a bandeira da defesa do povo e da nacionalidade. O atual presidente tem amplo apoio da população e derrubá-lo pura e simplesmente pode levar o país para uma guerra civil.
Há uma forte polarização na imprensa, nas Forças Armadas e na população. O chefe do Executivo foi eleito para um novo mandato com uma larga vantagem sobre o segundo colocado. Sua estratégia eleitoral é dizer que está ao lado dos pobres, dos descamisados, dos necessitados. Em troca, é considerado o pai dos pobres e o seu retrato está pendurado em todas as repartições públicas do país. Não há quem não o reconheça, mesmo nas regiões mais distantes da capital do Brasil.
A oposição não dá folga para o presidente. A volta dele ao poder gera uma reação especialmente dos deputados e senadores ligados aos partidos políticos de direita. O presidente tem o apoio dos partidos de esquerda e dos sindicatos. Para muitos, é surpreendente que ele tenha migrado da direita para a esquerda.
Durante o período que esteve no poder, entre 1930 e 45, foi claramente favorável à elite nacional, especialmente aos proprietários de terras, e nunca escondeu sua admiração pelo fascismo. Getúlio Vargas sofre forte oposição com uma política que rotula como nacionalista, refratária à participação do capital estrangeiro no Brasil.
Principalmente na prospecção e exploração de petróleo, um combustível que fica cada vez mais importante e estratégico no mundo. Sua bandeira é “o petróleo é nosso”. O radicalismo político chega ao auge com forte ataque por parte da imprensa, especialmente na capital do Brasil, o Rio de Janeiro. Há ameaça de investigação das denúncias de corrupção que envolvem Getúlio e sua família.
Um deles é seu filho. A gota d´água é o atentado contra o jornalista de oposição Carlos Lacerda, quando morre um major da aeronáutica que fazia a segurança dele. Os militares se revoltam e tomam a base aérea do Galeão. Querem interrogar o irmão de Vargas. O vice-presidente, Café Filho, propõe que ambos renunciem. Vargas não aceita. Há uma ameaça de confronto social. Ele opta pelo suicídio em 1954. Encontra uma saída, segundo ele, para as páginas da história do Brasil.
(*) – Âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7, é Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina”, (www.herodoto.com.br).