Cida Leit (*)
Existe uma preocupação constante, anunciada em jornais, redes sociais, e tantos outros órgãos da sociedade, sobre o respeito que se deve ter para com os idosos.
Para mim, essa preocupação é desnecessária. Por quê? Porque respeitar o idoso, seja quem for, é uma obrigação e um sentimento que vai além da caridade e do amor, pois deve ser algo inerente e eterno ao ser humano. Assistimos enlevadas e emocionadas cenas de animais respeitando seus pares mais velhos. Dando atenção e guarida até a morte do membro “idoso” do grupo.
E nós, seres inteligentes e evoluídos, temos que fazer campanhas, movimentos sociais, eventos, para conclamarmos o respeito aos idosos? Algo que deveria ser um dever inalienável de qualquer pessoa mais jovem e um direito (também inalienável) de qualquer pessoa idosa.
A questão é que estamos ficando velhos e não nos preparamos para isso.
Em sete décadas, a média de vida do brasileiro aumentou 30 anos, saindo de 45,4 anos, em 1940, para 75,4 anos, em 2015. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2030, o número deve superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Mas já estamos sentindo agora o aumento no número de idosos desamparados pela família. Os albergues públicos estão lotados e a demanda por vagas entre pessoas de mais de 60 anos não para de crescer, segundo estudo do Ministério do Desenvolvimento Social.
Segundo o IBGE, entre 2012 e 2017, a população de idosos no País saltou 19,5%, de 25,4 milhões para mais de 30,2 milhões de pessoas. No mesmo período, o número de homens e mulheres com 60 anos ou mais nos albergues públicos cresceu 33%, de 45,8 mil para 60,8 mil. O desamparo familiar cresce mais rápido que a expectativa de vida — e o Brasil precisa de um projeto para reforçar os cuidados prolongados e a assistência na velhice.
Atrevo-me a dizer que quem não respeita os mais velhos, os idosos, é alguém sem alma e sem compaixão. Pessoas que pavimentaram as estradas por onde nós, os mais jovens, estamos trafegando, que nos legaram um país maravilhoso pelo trabalho árduo e dignificante, que abriram picadas, para que os mais jovens pudessem caminhar seguros e de cabeça erguida, têm que ter movimentos e ações sociais para serem protegidos? Isso é um disparate sem precedentes.
Para que os idosos de hoje e do futuro tenham qualidade de vida, é preciso garantir direitos em questões como saúde, trabalho, assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de transportes. No Brasil, esses direitos são regulamentados pela Política Nacional do Idoso, bem como o Estatuto do Idoso, sancionados em 1994 e em 2003, respectivamente. Mas regulamentar não basta.
É urgente que a sociedade tenha a consciência do respeito à terceira idade, para que os idosos tenham uma vida digna em qualquer espaço público, em qualquer lar, em qualquer grupo social. Sem precisar de lei ou campanha que o privilegie, mas que o respeito e a gratidão sejam suficientes.
Desenvolver no coração de todos nós um amor e um respeito natural a qualquer cidadã ou cidadão idoso, uma segurança, proteção e carinhos por todo nós, seres humanos, tão grande e majestoso, como dos animais irracionais para com seus idosos do grupo.
Vamos aprender a fazer crescer em nós, dentro de nossas almas, um sentimento que já existe ali, mas que esquecemos de regá-lo, adubá-lo, e que tem o nome de fraternidade, para criarmos uma sociedade que tem como Lei eterna o amor pelos nossos idosos. Antes que seja tarde demais.
(*) – É fotógrafa e voluntária, membro do Rotary Club Curitiba Rebouças e da Soroptimist International of The Americas – Região Brasil.