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Profissão Genro

em Opinião
quinta-feira, 13 de julho de 2017

Heródoto Barbeiro (*)

Até a proclamação da república não havia uma única universidade no Brasil.

Não era preocupação da elite proprietária de escravos, detentora de latifúndios e exportadora de monocultura. As escolas superiores eram isoladas e seguiam a formação de profissionais liberais com direito a ocupar postos de trabalho privilegiados geralmente no governo. As faculdades de direito fundadas ainda na época de D. Pedro I eram não só uma via para ascensão econômica, mas também política e social.

Os bacharéis, que ostentavam garbosamente o título de “doutor “ tinham mais facilidade de se aproximar dos “bons partidos”, ou seja a filha de um rico fazendeiro. Sua profissão, muitas vezes, se resumia em ser o genro, o pai dos netos do senhor ou seu sucessor, haja vista que mulheres não eram habilitadas a dirigir capatazes e jagunços. A faculdade era o portão para o ingresso na política manipulada pela elite proprietária do Brasil.

No final do século 19 havia 24 cursos superiores e cerca de dez mil estudantes. A maioria esmagadora de brancos. O ensino público não era gratuito e isso foi confirmado por Getúlio Vargas, quando promoveu uma reforma educacional. As universidades foram autorizadas desde que as faculdades fossem aglutinadas em torno de uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Contudo houve uma intensa disputa entre as instituições religiosas e as laicas.

A Igreja tinha o domínio das escolas e do conteúdo do que era ensinado desde o período colonial. Assuntos e livros eram considerados inadequados se colidissem com a ideologia do catolicismo. Os que estavam no índice dos livros proibidos, nem pensar, como a História da Instalação da Inquisição em Portugal, de Alexandre Herculano. Ou a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. A Igreja só aceitou a concorrência da escolas superiores leigas depois que ganhou como compensação a introdução do ensino religioso no curso básico, ainda que optativo. O catolicismo, é claro.

A grande mudança na época foi o crescimento das universidades públicas e privadas ainda que poucos tinham condições econômicas para fazer o curso.
O academicismo sempre viu o aproveitamento dos avanços científicos pela iniciativa privada com maus olhos. O que foi conseguido com o dinheiro dos impostos deveria reverter só para os cidadãos e não para os empresários. Essa postura atrasou em décadas uma parceria entre cientistas e empreendedores.

Ainda assim o ensino superior é para grande parte dos estudantes, a única via para ter ascensão econômica e social. Pobres e ricos batiam nas portas dos vestibulares em condições desiguais e disputavam as melhores escolas, geralmente universidades públicas. O aluno da escola pública perdeu a competição quando a qualidade de ensino despencou e ele não tinha condições de pagar os cursinhos pré vestibular, ou os caríssimo colégios abertos para a elite econômica.

O currículo do segundo grau eram as questões dos vestibulares anteriores treinados por professores. Separar vagas de universidades públicas para estudantes das escolas secundárias públicas é uma ação afirmativa para equilibrar as oportunidades de acesso a universidade.

(*) É autor com Frei Betto de ‘Um Budista e Um Cristão’, diálogo relevante (Ed. Fontanar).