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Produtos de Páscoa e as dificuldades de venda

em Opinião
quarta-feira, 23 de março de 2016

Agostinho Celso Pascalicchio (*)

Parcelamentos no cartão de crédito para facilitar a aquisição dos produtos de Páscoa mostram a grande dificuldade dos supermercados em atrair os consumidores neste período do ano.

Dos grandes supermercados às pequenas redes regionais, todos estão oferecendo essa opção de compra para as vendas dos tradicionais produtos de Páscoa, como bacalhau e ovos de chocolate, em parcelamentos de até dez vezes sem juros no cartão de crédito.
Os consumidores têm mostrado insegurança com relação à duração da crise econômica e também com relação à evolução da inflação, muito em razão da elevação da taxa de desemprego das regiões metropolitanas.

Este valor, avaliado pelo IBGE, era de 5,3% em janeiro de 2015. Em janeiro de 2016 atingiu 7,6%. Assim, se elevou para um novo patamar. As informações com relação à atividade econômica não são animadoras e fornecem a percepção de manutenção da crise econômica. A inflação ou a alta nos preços, particularmente dos alimentos, tem sido uma outra das preocupações dos consumidores.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, considerando os dois primeiros meses, situou-se em 2,18%. Nos últimos doze meses, a taxa foi 10,36%. Essas taxas vêm sistematicamente em elevação desde o ano passado. No começo de 2015, situava-se em torno de 7%. Estão agora em um novo patamar, em torno dos atuais 10% registrados pelo IBGE. Segundo pesquisa realizada pelo PROCON-SP e divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, os preços dos ovos de Páscoa subiram 30,75% entre 2015 e 2016. Um problema para os chocólatras.

Nesse sentido, a alta da inflação está revelando a presença de um novo elemento. Está apresentando os elementos da indexação formal e informal sobre os preços dos produtos. A primeira indexação, a formal, é consequência dos reajustes sobre os preços dos bens que são consequência dos reajustes nos contratos como o de aluguéis. A segunda, a indexação informal, ocorre porque um vendedor ou um prestador de qualquer serviço aumenta o preço de seus produtos para preservar a sua renda.

A indexação tem um caráter irônico: ao mesmo tempo que protege os agentes contra a inflação, por corrigir de maneira rápida os preços dos bens, impede a queda nos preços por tornar ativo este mesmo mecanismo. A estrutura de combate à inflação no Brasil, por continuamente conter a demanda, bate sempre no aumento do desemprego. O brasileiro não é alheio a este processo.

A atividade desenvolvida pelo setor comercial, por sua vez, incorre em diversos custos. A oportunidade de aproveitar qualquer evento que torne o consumidor propício a realizar um dispêndio não pode ser perdida pelo setor. O setor incorre em despesas que estão em constante aumento: energia, aluguel, pessoal, treinamento, estoques- particularmente se importados- entre outros.

Esta Páscoa representa uma oportunidade de aumento de receita onde algumas inovações como ovos de chocolate com novos ingredientes e brinquedos lembrando a data e com preços mais atrativos, podem colaborar neste acréscimo de ganho. O comércio, também, pode estar vendo no processo de parcelamento das compras uma forma de reter os clientes. Uma forma de garantir sua fidelidade e dificultar que eles sejam sensibilizados pela concorrência em época de crise.

Com este ambiente, os supermercados encontram nas facilidades de pagamento com o uso do cartão de crédito, o instrumento de atrair os consumidores. É uma boa estratégia de mercado, que dependendo das condições pode atrair os clientes sem comprometer a saúde financeira de seus compradores.

(*) – É professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.