Mario Enzio (*)
A frase pode estar querendo dizer que existe um padrão de sensibilidade por observação ou intuição por parte dos cidadãos.
Indo buscar ajuda ao sempre necessário e pouco usado dicionário intuímos que o vernáculo, a palavra, ‘percebe’ tem como sinônimos: alcançar, atingir, abraçar, compreender, entender. Isso é aprender. Há muitas maneiras de se aprender: com a teoria e a pratica, com experiência, com erros cometidos. Vamos corrigindo o que for preciso para aperfeiçoar e melhorar nossas condições sociais, profissionais e pessoais.
Percebo duas polaridades básicas de pessoas. Nada muito científico, apenas para ilustrar nosso caso. Há pessoas com uma vida bem dinâmica, ativa, agitada, decidida. Em compensação há outras que seriam passivas, inertes, entorpecidas, inativas, quase imóveis. Se déssemos para ambas as mesmas informações e pedíssemos uma opinião, sobre determinado assunto comum, poderíamos ter – em tese – duas opiniões dominantes em comum a cada grupo. Certo? Nem sempre. Teríamos que afirmar que depende do assunto.
Pois bem, então, vamos imaginar que essas pessoas representassem uma cidade. Nessa cidade, metade votou num candidato. E a outra metade mais uma pessoa votaram em outro candidato. Depois de um tempo, a metade que voltou no candidato vencedor descobre que todo o grupo que foi eleito está envolvido com corrupção. Não só o candidato vencedor, mas a grande maioria dos candidatos eleitos. A população ficará indignada, insatisfeita, descontente. Como foi uma eleição democrática, sem sujeira, sem que houvesse qualquer deslize que pudesse justificar fraude, aquela população está convencida da legitimidade do mandato.
Mas, as pessoas mais ativas, não se conformam. E tentam a todo custo acabar com aquela situação. Alegam por motivos legais com juntada de provas os supostos erros cometidos diante dos institutos de jurisdição. E, as pessoas passivas, estão contemplando. Sim, o povo percebe os movimentos. Nem sempre compreende todos os mecanismos funcionais, as estruturas, os tecnicismos da formação, organização, manutenção de uma República com seus poderes independentes.
Nesse mundo das chamadas ‘coisas públicas’, da República – há muito a ser compreendido. O povo nem sempre percebe. Mas, percebe quem o traí. Quem diz uma coisa um dia, e depois faz outra. Quem se diz amigo e depois se comporta como um sorrateiro bate carteiras. Um corrupto básico ou quem quer obter vantagem para si. Só que muitas dessas pessoas – ativas ou passivas – não se recordam desses episódios na hora de votar. E, às vezes, colocam os mesmos sujeitos no lugar onde irá administrar as ‘coisas públicas’. Sim, o povo percebe, mas tem que ser mais participativo e avisado.
Não adianta só perceber o caráter de um político na hora em que lhe pede voto. Isso não se percebe. É clima de festa, confraternização, promessas. Percebe-se o seu desempenho, sua postura ética, seu devido valor com sucessão de atitudes. Atos, obras, ações de cada dia. Esse acompanhamento no cotidiano é revelador.
Sendo assim, além de ficar de olho no desempenho de quem lhe representa, é imprescindível que se investigue e se fiscalize. O povo percebe?
(*) É Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: www.marioenzio.com.br