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Por que não ganhar dinheiro e transformar a realidade de milhares de brasileiros?

em Opinião
segunda-feira, 04 de abril de 2016

Haroldo Torres (*)

Em uma passagem consagrada, Karl Marx argumentava que, sob o capitalismo, “tudo que é sólido se desmancha no ar”.

Esta frase – inspirada nos altos e baixos da economia capitalista – é ainda mais verdade no Brasil em tempos de crise. Empresas importantes estão em recuperação judicial; executivos de grande projeção estão na cadeia; e mesmo organizações gigantescas, como a Vale, sofrem desvalorização inédita dos ativos. Neste contexto, talvez tenhamos uma boa chance de repensarmos o significado de nossos investimentos.

Investir não é apenas alocar recursos: significa também apostar em sonhos. Quem usou o próprio fundo de garantia para comprar ações da Petrobrás no início da década passada, por exemplo, o fez (claro!) acreditando que se tratava de uma organização sólida, cumpridora da lei e com bom potencial de retorno econômico. Mas existia também um outro aspecto emocional de grande relevo: era uma organização brasileira, que apostava em nosso País e que cresceria com ele.

Grande parte desses investidores não buscava apenas um papel potencialmente rentável – investia também em uma promessa de nação. Eram investidores que queriam ser parte de algo maior que, se evoluísse adequadamente, beneficiaria a todos. Infelizmente, sabemos onde a promessa foi parar. Mas, apesar da crise e das desilusões, o sonho deve continuar, certo?

Não por acaso, investimento em setores como tabaco e indústrias poluidoras vão ficando mais e mais estigmatizados. E um número crescente de pessoas considera alocar parte dos recursos em projetos que não apenas prometem retorno, como também produzem impacto considerado positivo. Isso é ainda mais verdade para a geração milênio, que entende a busca por propósito como parte essencial de sua experiência no planeta.

Essa tendência se traduz no exterior em um campo novo, denominado impact investing. São fundos de investimento que alocam recursos em áreas como microcrédito e educação, por exemplo, e que buscam avaliar simultaneamente o retorno econômico e o impacto social do projeto. No Brasil, já existem fundos com esse perfil – mas, inacessíveis a investidores de menor porte.

Qual a saída, então, para os pequenos e médios investidores? Muitos deles vão parar no Tesouro Direto, em fundos tradicionais ou arriscando seu capital em operações de Bolsa de Valores. A poupança é, por definição, a pior aplicação do mercado. Os fundos cobram taxas significativas e podem ter problemas de transparência. Os investimentos em ações parecem interessantes, mas existe uma assimetria de informação entre os profissionais e os pobres mortais, que só se dão conta da queda no valor de seus papeis quando já é tarde.

Se é para correr risco sem saber porque, talvez seja melhor arriscar tendo algum propósito claro em mente: buscar projetos que fazem a diferença. Para isso, começa a surgir no Brasil uma nova alternativa: o Crowdfunding Equity. Por meio de plataformas como a do Broota, investidores podem alocar recursos a partir de R$ 2.500,00 em empresas em estágio inicial e que mereçam o seu respeito. Nós, da Din4mo, temos a honra de liderar o primeiro grupo de investidores de impacto dessa plataforma, visando sempre apoiar projetos meritórios em termos econômicos e que tenham o potencial de transformar as condições sociais no Brasil.

No final do ano passado, lideramos por meio do Broota a captação de quase 500 mil reais realizada pelo Programa Vivenda. Com esses recursos, a empresa será capaz de realizar mais de 300 reformas de domicílios em favelas em 2016. E, se tudo der certo, esse projeto vai crescer exponencialmente nos próximos anos, contribuindo para transformar a realidade de milhares de famílias brasileiras.

Se você acredita que um outro jeito de fazer negócios é possível, aposte nesta ideia.

(*) – Economista, mestre em Demografia e doutor em Ciências Sociais, foi bolsista do Harvard Center for Population and Development Studies durante o doutorado e é pesquisador-sênior do Cebrap. É coautor do livro ‘Captação de Recursos para Startups e Empresas de Impacto1, pela Alta Books.