Clemente Ganz Lúcio (*)
A força de trabalho mundial é da ordem de 3,3 bilhões de pessoas, das quais mais de 190 milhões estão desempregadas.
Com as diversas inovações tecnológicas, o sistema produtivo, a geração de energia, a comunicação e o transporte têm se modificado intensamente, facilitando a articulação das cadeias produtivas globais e a estruturação de uma nova divisão internacional do trabalho. O sistema financeiro compra empresas e patrimônios naturais, amplia formas de gerar lucro e de acumular e concentrar renda e riqueza. Esse processo exige a prospecção sobre o que será o futuro do trabalho e do emprego.
Um ponto de partida é entender a situação da dinâmica econômica e regulatória do mercado de trabalho, o que está acontecendo e quais as perspectivas para o emprego. A OIT disponibilizou duas importantes publicações: Perspectivas Sociales y del Empleo en el Mundo – tendencias 2018 (OIT, Genebra, 2018) e Panorama Laboral 2017 América Latina y Caribe (OIT, Lima, 2017). Esses documentos reúnem informações e análises preciosas.
Aumenta o contingente dos desalentados, pessoas que desistem de procurar empregos. A América Latina e o Caribe reúnem uma força de trabalho de 300 milhões de pessoas, com 20 milhões de desempregados e quase 36% dos ocupados em empregos vulneráveis. A OIT estima que 42% dos empregos no mundo são desprotegidos, número que cresce desde 2012. Há, portanto, um fenômeno estrutural de aumento dos empregos vulneráveis (trabalhadores por conta própria, trabalhadores familiares auxiliares e assalariados sem registro) em um contexto de altas taxas de desemprego de longa duração.
Nos países emergentes, os empregos vulneráveis atingem 76% das ocupações. Cerca de 300 milhões de trabalhadores recebem salários inferiores a 1,90 dólar por dia. Nos países em desenvolvimento, a força de trabalho em situação de extrema pobreza ultrapassa 114 milhões de pessoas, o que equivale a 40% de todos aqueles que estão empregados nessas regiões. A pobreza moderada (situação na qual está quem recebe entre 1,9 e 3,1 dólares por dia) atinge 430 milhões de trabalhadores.
São imensas as desigualdades de gênero: as mulheres ganham menos e ocupam a maioria dos empregos vulneráveis. Os jovens enfrentam restrições para o acesso a um posto de trabalho precário e convivem com taxas de desemprego três vezes superiores às dos adultos. O emprego rural já não é mais substituído pelo industrial e urbano. A ocupação rural é eliminada e agora suprida por um posto no segmento dos serviços, a maioria de baixa qualidade, precária e vulnerável, com pequenos salários.
Enquanto isso, o emprego industrial entra em declínio. A desindustrialização precoce dos países emergentes compromete o desafio de alçar e emparelhar o desenvolvimento produtivo dessas nações ao das desenvolvidas. O crescimento econômico está anêmico, com baixo investimento privado, escassez de demanda (baixos salários, empregos precários e inseguros etc.), desigualdade crescente de renda e riqueza, o que esteriliza ainda mais a demanda.
O processo civilizatório a partir do emprego regride. Montam-se armadilhas e os conflitos vão aumentar. Tempos de tempestades
(*) – É Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização.